Face ao acelerado processo de secularização que se está a verificar nas sociedades, as comunidades cristãs estão a ficar mais pequenas e mais envelhecidas. Muitas vão ficar reduzidas a pequenos grupos, lembrando os inícios da Igreja. Diluídos os automatismos e os apoios familiares e sociais de outros tempos, temos uma imensidão de «cristãos» que passou pela Igreja, mas não tem fé, nem convicções cristãs. Como chegámos até aqui?
Aconteceram mudanças significativas na família e na sociedade. Mas importa, sobretudo, olhar para dentro da Igreja. Nas últimas décadas, as comunidades cristãs alimentaram um cristianismo sacramentalista, lúdico e tradicionalista, e até de grande e fecunda ação social, mas não se deu a devida importância à iniciação cristã, que não estava a consciencializar e a comprometer os cristãos, ao analfabetismo cristão de muitos cristãos, à formação e à evangelização dos leigos na Igreja. Não podemos persistir nesta senda. O Cristianismo tem a sua vertente sacramental e litúrgica, festiva, é criador de cultura e gerador de costumes e tradições, tem um papel insubstituível e impreterível nos desafios e dificuldades da sociedade, mas é importante que seja testemunhado por cristãos adultos na fé, bem formados e esclarecidos na sua condição de discípulos de Cristo, cristãos convencidos que sabem o que são e o que querem. Até o consumismo religioso se instalou em muitas comunidades, sacramentos e festas, sem crescimento e compromisso verdadeiramente cristão.
Só temos um caminho a seguir: apostar numa formação pastoral séria, recuperar o protagonismo da evangelização nas comunidades, à volta da Bíblia, formar doutrinalmente e espiritualmente os leigos, que se sintam evangelizados para evangelizar, com convicções. Sem formação, não haverá salvação, diante deste vendaval de secularização, que tudo leva na frente. Urge, por isso, uma nova educação cristã e uma revolução nas nossas comunidades cristãs, à imagem dos primórdios do Cristianismo: eucaristia e ensino. Só as árvores robustas e com grandes raízes resistem às tempestades.