Recentemente foi anunciado o pacote de apoios às famílias prometido pelo primeiro-ministro em julho. O Governo, num Conselho de Ministros extraordinário, aprovou várias medidas, sendo que as que terão um impacto imediato (a pensão extraordinária no valor de 50% da pensão mensal, o cheque de 125 euros por pessoa até aos 2.700 euros de rendimento mensal bruto e o cheque de 50 euros por cada dependente até 24 anos) estão orçadas em 1.840 milhões de euros.
No entanto, os apoios anunciados pelo Governo são escassos para que as famílias consigam fazer frente ao acentuado aumento do custo de vida, apesar do Estado registar aumentos históricos na receita fiscal.
Se considerarmos uma família com 2 filhos dependentes (com os pais a auferir o rendimento base bruto médio – 1.069 euros mensais), o impacto da subida generalizada dos preços no rendimento líquido nos primeiros 8 meses do ano foi de 912 euros. No entanto, apoio imediato que o Estado irá proporcionar a este indivíduo é de apenas 350 euros (125€ por cada pai trabalhador e 50€ euros por cada filho), ou seja, 38% da perda de poder de compra perdido. Em termos líquidos, há uma perda de poder de compra de 562 euros (até ao final ao final do ano o valor acumulado de perda de poder de compra ainda irá crescer).
Se considerarmos um sujeito passivo solteiro sem filhos que aufira o rendimento base bruto médio, o impacto da subida generalizada dos preços no rendimento líquido nos primeiros 8 meses do ano foi de 460 euros. No entanto, o apoio imediato que o Estado irá proporcionar a este indivíduo é de apenas 125 euros, ou seja, 27% da perda de poder de compra perdido. Em termos líquidos há uma perda de poder de compra de 335 euros.
As contas revelam que os apoios estatais concedidos às famílias ficam muito aquém do impacto real que a inflação tem tido no bolso dos portugueses. Além disso, estes apoios correspondem, na prática, à devolução de apenas uma pequena parte da receita fiscal adicional que, à boleia da inflação, o Estado conseguiu capturar aos contribuintes.