Com a revolução de 25 de Abril de 1974 dá-se início à vida democrática em Portugal, após décadas de ditadura. Armando Moreira estava em Luanda, onde trabalhava no Banco Pinto & Sotto Mayor, e as notícias do que se passava em Lisboa chegaram pela rádio.
“Fomos acompanhando pela rádio, com muita expectativa”, recorda, admitindo que “foi um dia muito feliz”. Regressou em 1975 e enveredou pela docência, tendo sido colocado em Mirandela e, depois, em Vila Real.
Entretanto, a política surge na sua vida por acaso, vindo a tornar-se o primeiro presidente da Câmara de Vila Real no pós-25 de Abril, sendo eleito em 1976, naquelas que foram as primeiras eleições autárquicas do país.
“Eu dava aulas de manhã e à tarde ia fazendo outras coisas. Em junho desse ano, em frente ao Hotel Tocaio, um colega meu disse-me que o partido me queria convidar para ser candidato à câmara. Achei estranho, porque não estava ligado a nenhum partido”, conta Armando Moreira, que, em África, tinha desempenhado funções de administração do território. “Acharam-me com currículo e capacidades suficientes para ser candidato e acabei por aceitar”.
Acabou por vencer as eleições, em representação do PSD, cargo que desempenhou ao longo de cinco mandatos. “Foram anos de muito trabalho”, confessa, lembrando que “entre 77 e 79 os municípios não tiveram recursos próprios” e que “a primeira lei das Finanças Locais só surgiu no final do primeiro mandato”.
DESAFIOS
Como presidente de câmara teve muitos desafios, em diversas áreas, desde logo na habitação porque “era preciso ter casas e condições para os retornados”, tendo sido dado um apoio a várias cooperativas, sendo a Traslar “a que mais habitações construiu”. Segundo Armando Moreira, “em meados de 1990 tínhamos alojado, em habitação social, a custos controlados e de iniciativa cooperativa, mais de 10 mil pessoas, um número que considero impressionante”.
Na educação, “foi feito um levantamento, nos primeiros meses do mandato, das necessidades dos edifícios escolares. Entre 1977 e 1987 foram construídos ou requalificados 22 edifícios. Até que cessei funções foram mais 17”.
Já na saúde, um dos temas que continua a ser muito debatido nos dias de hoje, “quando cheguei à presidência, a situação era muito má”, tanto a nível de infraestruturas, como na falta de médicos. “Em 1994, quando deixei a câmara, estavam construídos dois centros de saúde, havia consultas em 10 locais de freguesias rurais e estavam construídos os edifícios do Centro Hospitalar”.
Além disto, não esconde que as grandes necessidades da população, no pós-25 de Abril, se prendiam com “o abastecimento de água e a luz elétrica”. Dos seus anos de presidência, Armando Moreira destaca, ainda, a criação da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e do Estádio do Monte da Forca, um projeto que lamenta ter “ficado inacabado”.
“Foi preciso criar legislação, dotar as autarquias de meios financeiros, de instrumentos de gestão. Não se podia perder tempo, havia muita coisa para fazer”. Hoje, e como defensor da regionalização, espera que “as autarquias tenham mais autonomia e deixem de estar tão dependentes do poder central para resolver os seus problemas”.
“Gostei muito de ser presidente de câmara, senti-me muito acarinhado”, mas “não tenho saudades”, confessa.