Sexta-feira, 26 de Julho de 2024
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Com 91 anos “Mariazinha” continua a ir à escola

O seu nome é Belmira. Mas não há, na terra onde vive (Vila Pouca de Aguiar), quem a não conheça senão por “Mariazinha”.

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“Mariazinhas” há muitas, mas aquela de quem aqui falamos é muito especial.
Tem 91 anos de idade e diz-nos, com ênfase e justificado orgulho, que gosta muito de ir à escola.

“À escola? Com 91 anos de idade? Não haverá aí um engano qualquer?” – dirão alguns, menos curiosos e mais descrentes.

Sim, é verdade. Com a idade que tem e com a sua alegria e gosto de saber coisas novas frequenta a USTAG/Universidade Sénior das Terras de Aguiar em cinco disciplinas.

“É um gosto muito grande para mim frequentar as aulas da USTAG. Aprendo muitas coisas novas, convivo com outras pessoas, faço viagens de estudo e ainda complemento as minhas atividades em casa, depois das aulas, pintando, lendo, vendo alguns programas de televisão, mas não gosto de telenovelas”.

Belmira nasceu em 15 de março de 1933. “Não nasci aqui. Nasci em Coimbra, mas vim para cá um mês depois de ter nascido. O meu pai era um comerciante muito conhecido, trabalhava no ramo do azeite e dos produtos da terra, batatas, adubos. Depois de o meu pai falecer fiquei eu com o negócio, até que conheci aquele que viria a ser o meu marido. Infelizmente, teve um acidente que o roubou à vida ainda cedo”.

Ficou viúva aos 48 anos. Teve três filhos (dois rapazes e uma mulher que não residem em Vila Pouca de Aguiar, mas em Braga, Porto e Leiria) e tem seis netos e dois bisnetos.

“O meu marido era empresário, fundou a empresa Auto Viação do Tâmega. Também era muito conhecido na nossa região mas morreu de forma inesperada, na Estrada Nacional 2, quando seguia num carro comprado na véspera, em direção a Chaves. Ironia das ironias, o seu automóvel novo embateu contra um autocarro da sua própria empresa que vinha em sentido contrário. Foi muito triste”.

Desde então, adaptou-se à nova situação, educou os três filhos, continuou a ser comerciante na vila, sendo muito estimada por toda a gente. Não haverá na sua terra quem a não conheça.

“Só faço aquilo de que gosto”

Agora, dedica-se ao conhecimento. Estuda na Universidade Sénior, desde o segundo ano em que ela funciona. Quer aprender, sempre mais, conviver com as pessoas.

Sai muito de casa. Não gosta de ficar sentada a ver televisão, mas não perde o “Joker”.
O seu dia a dia é muito preenchido. Não deixa de sair logo pela manhã.

“Só faço aquilo de que gosto. De manhã saio para ir tomar o pequeno-almoço com uma prima, no seu estabelecimento comercial. Já lá tenho um lugar reservado para isso. Gosto de passear na rua e conviver com as pessoas. Almoço no Lar da Santa Casa da Misericórdia, onde também janto e pernoito. Vou para a Escola, passo lá a tarde. Quando estou em casa dedico-me à leitura para treinar a mente e pinto muito, gosto muito de pintar. Na escola tenho aulas de História, ouço os ensinamentos do meu professor Padre Paulo, faço Expressão Dramática, enfim, gosto muito do que faço e também estou pronta para ajudar no que for preciso”.

“Quando vêm a Vila Pouca algumas pessoas que necessitem de aqui permanecer uns tempos, como freiras e padres, ofereço-lhes alojamento e pequeno-almoço em minha casa. Isso reforça o convívio que tento manter com toda a gente”.

Tem um desgosto na vida: as guerras que se fazem sentir no mundo.

“Já houve muitas guerras durante a minha vida. A primeira guerra mundial era eu pequena e quase nem dei conta dela, mas as mais chegadas, sim, vivi-as com muito pesar e preocupação. Mas estas de agora são horríveis. Morre tanta gente inocente. Não me lembro de nada igual!”.

Maria Belmira Ferreira Martins Neves. Um exemplo de envelhecimento ativo, agora que tanto se fala disso. Tem uma reforma pequena, mas a sua riqueza mede-se mais pelos seus dias vividos com muito entusiasmo e dedicação às coisas. Em casa ou na escola.




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