Terça-feira, 15 de Outubro de 2024
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“É com desagrado que vejo a redução do investimento público”

Sob o tema “O discurso do desenvolvimento, de novo”, José Sócrates esteve em Vila Real a convite da Youth Academy, no âmbito das Conferências da Juventude. O antigo primeiro-ministro chamou a atenção para o “súbito desaparecimento da ideia política de desenvolvimento no discurso político” e da consequência para as regiões do interior

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Foi nos Claustros do antigo Governo Civil que algumas dezenas de pessoas ouviram José Sócrates “trazer ao discurso político, de novo, o desenvolvimento”. Em mais um debate promovido pela Youth Academy, o engenheiro, que governou o país entre 2005 e 2011, com a bandeira do Partido Socialista (PS), criticou a falta de investimento público que o país tem testemunhado. 

“Só quis chamar a atenção para o súbito desaparecimento da ideia política de desenvolvimento no discurso político, no espaço público de debate. Parece que ninguém tem responsabilidade de propor nada e que todos os políticos passam a sua vida a explicar aos portugueses por que é que não podemos fazer nada e porque devemos manter tudo como está”, disse José Sócrates à VTM no final da conferência, onde sublinhou a opinião de que o país, há muito que deveria estar ligado à Europa através do transporte ferroviário de alta velocidade. 

“Sou de uma geração em que a política se fazia de propostas de desenvolvimento e de crescimento, de melhoria e evolução e vejo isso com muita preocupação porque tem razões ideológicas por trás”, realçou perante a plateia que, em várias intervenções, relembrou as obras deixadas pelo engenheiro enquanto primeiro-ministro, como o Túnel do Marão e a A4, que liga Bragança ao Porto, o Museu do Douro e as barragens do Douro. 

É com “desagrado” que José Sócrates vê essa “redução do investimento público”, defendendo que as regiões mais afetadas são as do interior. “Sofrem mais porque são justamente as que carecem mais de investimento e têm menor dinamismo económico para contrabalançar essa diminuição”. 

Ainda sobre investimentos, José Sócrates apontou o dedo à Europa, que diz estar em “declínio”, e ao “discurso ridículo de todos os responsáveis europeus”, relativamente à “bazuca” europeia, que vai disponibilizar 1,8 biliões de euros aos países que integram a União Europeia. “É insuficiente. Os Estados Unidos da América vão investir o triplo. Eu acho que a Europa devia fazer mais”, referiu o engenheiro. 

“A DIREITA CRIOU UM MONsTRO”

Sobre política interna, José Sócrates laçou críticas à esquerda e, principalmente, à direita, “que está cada vez pior” e “sem qualquer ideia naquela cabeça”. 

“A direita nacional derrapou e age de forma violenta, não respeitando os seus adversários políticos”. Sem nunca referir o nome de André Ventura, o ex-militante do PS afirma que “a direita criou um monstro que está, agora, a assombrar a sua própria área política”. 

“Quem criou a extrema direita foi o dr. Passos Coelho, que valorizou essa personagem que era o comentador da Operação Marquês, que virou candidato à Câmara de Loures, que discursou contra a etnia cigana e que pensa que pode insultar toda a gente e que essas características o tornam um homem corajoso e bravo”. 

OPERAÇÃO MARQUÊS

Sobre o processo da Operação Marquês, José Sócrates diz que “só agora começou”, fazendo alusão ao título do seu mais recente livro. 

“Eu estou preparado para tudo. É uma batalha solitária. Nunca pedi o apoio do PS nem o desejei. O que eu não esperava era que o PS me atacasse da forma como me atacou, e ao qual respondi”, confidenciou. Recorde-se que José Sócrates abandou o partido em maio de 2018, depois de divergências com a direção. O ex-primeiro ministro continua a defender a tese de que o processo Operação Marquês foi uma cabala política contra a sua pessoa e que o Ministério Público “não teve um papel imparcial de quem procura justiça”. 

“O Ministério Público conseguiu com que o PS perdesse as eleições de 2015, para o PSD, mas acabou no poder, apesar de tudo, e conseguiu que eu não fosse candidato à Presidência da República”, declarou José Sócrates, indo mais longe ao afirmar que o processo foi viciado quando o Ministério Público entregou o caso ao juiz Carlos Alexandre. “Isso é a prova de que houve uma fraude, um conluio, uma urdidura e um entendimento para que Carlos Alexandre ficasse com o processo. Agora, acontece que isso não existe nas democracias, mas cá estarei para me defender”. [/block]

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