Quarta-feira, 21 de Maio de 2025
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“É urgente avançar com um Plano Regional de Regadio”

Entrevista à cabeça de lista do PS | Júlia Rodrigues | Médica veterinária | 53 anos

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Quais são as duas grandes prioridades que defendem para o distrito? 

A concretização das ligações rodoviárias e ferroviárias, em particular com Espanha, bem como a criação de uma rede rodoviária intermunicipal eficiente, são prioridades essenciais para garantir a coesão territorial e potenciar o desenvolvimento económico. Simultaneamente, torna-se urgente avançar com a implementação de um Plano Regional de Regadio, sustentado na identificação das áreas com maior potencial agrícola e maiores dificuldades na retenção de águas pluviais, promovendo, assim, a valorização dos recursos endógenos e a sustentabilidade da atividade agrícola. 

A perda de população continua a ser um grave problema do interior do país. O que se pode fazer para combater este flagelo? 

A desertificação demográfica do interior é um desafio estrutural que exige uma resposta estratégica e integrada. Este fenómeno só poderá ser invertido através de uma mudança profunda no modelo de desenvolvimento territorial, centrada na criação de condições de atratividade e fixação da população. Isso passa, inevitavelmente, pela descentralização efetiva dos serviços públicos — nomeadamente nas áreas passíveis de funcionar à distância ou com base administrativa — e pelo fortalecimento do tecido económico local, com especial enfoque na captação de investimento para o setor exportador e na dinamização da indústria transformadora. Só assim será possível gerar emprego qualificado, fixar jovens e revitalizar o interior.

Como atrair investimento para a região? 

A chave para atrair investimento para o distrito de Bragança reside na valorização do seu maior ativo: o território. A localização estratégica no centro da Península Ibérica, com proximidade à fronteira espanhola e ao mercado europeu, confere ao distrito uma vantagem competitiva única, particularmente para empresas com vocação exportadora. Bragança é, provavelmente, o distrito português mais próximo da Europa, o que deve ser capitalizado como proposta de valor central na captação de investimento industrial e logístico. A esta vantagem territorial deve somar-se uma aposta clara na fixação de talento. O IPB assume um papel fundamental, pela sua capacidade de formar e atrair capital humano qualificado, nacional e internacional. No entanto, é necessário criar emprego qualificado, ajustado às competências disponíveis, e garantir salários mais competitivos, de forma a tornar a região atrativa para os jovens e profissionais altamente capacitados. É igualmente importante implementar políticas públicas de discriminação positiva, que incentivem a criação de emprego nos territórios de baixa densidade, através de benefícios fiscais, apoios à instalação de empresas e à contratação qualificada. Só assim será possível contrariar o ciclo de despovoamento e estimular a fixação de pessoas e projetos sustentáveis. Bragança deve ser promovido como um território de oportunidade, com qualidade de vida, custos operacionais competitivos e uma localização privilegiada para quem quer investir com os olhos postos na Europa. O futuro da região passa por transformar estas vantagens em argumentos claros e mobilizadores para os investidores.

Nos últimos tempos tem-se visto que a linha aérea tem uma grande importância para a região. Como impedir que esteja tantas vezes suspensa? 

A linha aérea é um instrumento essencial de coesão territorial, aproximando o interior do litoral. A sua constante suspensão, além de comprometer a mobilidade da população e das empresas, transmite uma mensagem de desvalorização do território. Infelizmente, este tem sido um tema recorrente sobretudo em contextos de governação à direita, o que revela, em muitos casos, uma postura de desinteresse e centralismo, mesmo quando o poder político integra representantes da região. A solução passa por assegurar a continuidade desta ligação aérea através de contratos públicos de serviço duradouros, com cláusulas de estabilidade e penalizações em caso de interrupções injustificadas. Trata-se de uma necessidade estratégica para o desenvolvimento económico, social e institucional do nordeste transmontano. É fundamental que o Estado assuma o compromisso de garantir acessibilidades equitativas para todos os territórios, valorizando verdadeiramente o interior e promovendo políticas públicas que não deixem ninguém para trás.

Tem-se falado que Bragança será ponto de passagem da linha de alta velocidade entre Porto e Madrid. Acredita na sua concretização? Que vantagens terá para o distrito? 

Não só acredito na sua concretização, como considero esta ligação uma prioridade estruturante para o futuro de Bragança e de toda a região transmontana. A inclusão de Bragança na linha de alta velocidade Porto-Madrid representa uma oportunidade única para ultrapassar décadas de isolamento, reforçando a ligação ao litoral português e ao mercado espanhol. Esta infraestrutura terá impactos muito positivos na mobilidade, na economia e na coesão territorial, reduzindo significativamente os tempos de viagem, aumentando a atratividade para investimento e dinamizando setores como o turismo, a indústria e os serviços. Além disso, permitirá reconhecer o potencial estratégico do distrito de Bragança, situado no centro da Península Ibérica, e integrá-lo nas grandes redes europeias de transporte e desenvolvimento. É fundamental que esta obra deixe de ser apenas uma ambição e passe a ser tratada como uma prioridade nacional, essencial para o equilíbrio entre regiões e para um desenvolvimento verdadeiramente inclusivo.

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