Segunda-feira, 9 de Dezembro de 2024
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“Em 2022 obras públicas sofreram maior desvio financeiro desde que há registos”

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Deixemos os prazos de lado para já. E em relação aos custos? Será que é mesmo verdade que derrapam frequentemente?

Não vamos olhar para cada orçamento, mas sim para as despesas anuais totais previstas e as despesas realizadas. Analisando o ano de 2022, constatamos que os contratos de obras públicas sofreram o maior desvio financeiro desde que há registo. A despesa adicional, apenas com trabalhos adicionais ou supressão de trabalhos contratuais (não inclui pagamentos de indemnizações por redução de trabalhos contratuais ou derrapagens do prazo de execução das obras), superou os 130 milhões de euros, um aumento de 5,3% face ao valor inicial, de 2,4 mil milhões de euros.

Este acréscimo diz respeito a 1.573 novos trabalhos – que se somam aos 491 contratualizados -, sendo também o número mais elevado de atos adicionais desde, pelo menos, 2006. O anterior recorde, tanto em termos do montante do desvio financeiro, como em termos do número adicional de contratos, era de 2007, sendo que, desde 2009, que o montante dos desvios nunca mais tinha ultrapassado os 70 milhões € (a preços constantes). Empreitadas em estradas a cargo da Infraestruturas de Portugal foram responsáveis pela fatura mais pesada, conclui uma auditoria do Tribunal de Contas (TdC).

O Tribunal de Contas alerta para o aumento do peso dos trabalhos complementares nestes números. No triénio 2020-2022, os trabalhos complementares, de 168,9 milhões de euros, representaram quase dois terços (62%) do acréscimo de custos apurado, na ordem dos 274,4 milhões de euros (a preços correntes). O impacto da inflação também foi significativo no aumento da despesa. O relatório do TdC verifica que mais de metade do valor dos trabalhos adicionais (54%), na ordem dos 147,8 milhões de euros face à despesa adicional total de 274,4 milhões, foi atualizado a preços novos em vez de ser acordado a preços contratuais.

Os desvios financeiros nas obras públicas em Portugal são um problema crónico. Em plena execução do PRR, estes dados devem servir de aviso e de lição para que fomentemos um melhor planeamento e priorização de gastos, e evitar que os desvios sejam a regra, e não a exceção.

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