Segunda-feira, 9 de Dezembro de 2024
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Este mundo não está para doentes e velhos

Espantoso como o assunto da despenalização da eutanásia não fez parte da campanha eleitoral, o que é imperdoável tendo em conta a transparência política que se exige em democracia e para com o povo, e, num ápice, está aprovada no parlamento.

Como o assunto poderia fazer perder votos, dá a impressão de que alguns partidos a quiseram aprovar à sorrelfa, para não terem danos eleitorais. Esta manhosice política não ficou bem. 

Veremos como é que vamos ultrapassar dois grandes obstáculos: a inviolabilidade da vida ditada pela nossa Constituição e o juramento de Hipócrates que os médicos fazem, que os obriga sempre a cuidar da vida e nunca a matar, como bem lembrou a Ordem dos Médicos. 

A nossa Constituição diz claramente que na vida não se toca. É inviolável. Se a Eutanásia for aprovada já não vai ser assim. Afinal, a vida é violável. E passámos a dar o direito ao Estado e a uma elite médica de julgar quando é que se deve viver e quando é que não se deve viver. Estaremos a ir por um bom caminho? Por outro lado, chamem-lhe todos os nomes bonitos, mas a Eutanásia é matar. Se a aprovarmos, estaremos a promover uma trágica cisão civilizacional: a dar a alguém o direito de julgar o valor da vida e de a tirar a outra pessoa. Alguém o fará sem escrúpulos, mas a perda de respeito pela inviolabilidade da vida é um grande pilar que cai na construção da nossa civilização humana. 

Consagrámos e construímos a sociedade do bem-estar, decretámos o individualismo, vendemos a ideia de que a vida tem de ser sempre hedonista, fácil, cómoda, leve, ao sabor dos caprichos e conveniências de cada um, sem sacrifício, sem dor e sofrimento, livre de todos os empecilhos que possam perturbar a suprema satisfação do indivíduo, de modo que hoje ninguém está disponível para se sacrificar pelos outros e a ser solidário com quem quer que seja, a não ser que seja suave e momentâneo, a não ser por muito dinheiro, e fazemos tudo por esconder aqueles por quem temos o dever de nos sacrificar. 

Toda esta discussão acontece quando sabemos que temos uma rede de cuidados paliativos muito deficitária no país. E sabemos algo muito mais preocupante: não há dinheiro nem vontade para se aumentar esta rede no país, permitindo-se respeitar a vida e dar um fim mais indolor ao sofrimento de muitos pacientes. Estamos a ir pelo caminho mais fácil: dar-lhes o direito a morrer, ou seja, desculpem, não temos mais tempo nem dinheiro para vós, ide andando. Até um dia destes.

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