As obrigações morais do homem e de todo e qualquer cidadão foram colocadas no centro da educação e da atuação humana. Todos teriam de obedecer cegamente ao deus dever e nada poderia estar acima da obediência incondicional ao dever. A idade do dever em todo o seu esplendor. A seu tempo, percebeu-se que esta ética laica do dever estava hiperbolizada e era opressora. Muitos já reclamavam: então o ser humano só tem deveres e não tem direitos?
Após a barbaridade de duas grandes guerras mundiais, um acontecimento muito significativo operou uma grande mudança: a aparição da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948. De lá para cá, o dever foi destronado e instalou-se nas sociedades contemporâneas uma “cultura de direitos”, não só dos fundamentais para todo o ser humano, mas desdobrada nas muitas declarações de direitos sociais e individuais, de tal forma que já se fala da idade do pós-dever. Mas temos de reconhecer que também é uma cultura que está exagerada. Não podemos só querer exigir e receber.
Se falamos de direitos, também temos de falar de deveres. Uma sociedade adquire o seu equilíbrio no respeito e cumprimento de ambos. Vemos hoje em dia, no ambiente social, uma permanente reclamação por direitos e mais direitos, e não digo que muitos não sejam legítimos e justos, mas não se vê a mesma reclamação e determinação quanto ao cumprimento dos deveres. Se estes não forem assumidos e cumpridos, caminharemos para a degradação humana e social, que já é notória. Lutemos pelos nossos direitos, mas temos que ser os primeiros a colaborar para que isso aconteça, cumprindo irrepreensivelmente os nossos deveres. Quem reclama um direito, reclama um dever. Quem reclama “compromete-se” a oferecer o mesmo aos outros, “compromete-se” a dar à sociedade algo em troca para que ela o possa oferecer a todos. A Declaração também o afirma: «O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade».