O futebol original, aquele que se disputava, alegremente, com uma bola e onze jogadores de cada lado, para deleite de um público que procurava, apenas, a boa jogada colectiva, a habilidade do praticante, a finta estonteante, a defesa espectacular do guarda-redes, o sentido de interajuda de uma equipa e a valorização do emblema que estava estampado, por cima do coração, nas camisolas de várias cores, acabou.
Em vez dele, temos, agora, as vedetas trocadas, a preço de ouro, de um distintivo para o outro, sem chegar a conhecer o carisma dos clubes, os interesses financeiros, o dinheiro a correr, as SAD em vez das agremiações, os adeptos sem bilhetes para assistir aos jogos que esses são para os “sponsors”, as ligações do futebol a diversos interesses, desde os publicitários aos políticos, as lutas pelo poder, as confusões geradas a torto e a direito, as claques a agredirem-se umas às outras, a violência a campear, por aí fora.
Já se sabe que o público adere, cada vez menos, ao “pontapé na bola”. Mas ainda me surpreende que haja ainda gente a privar-se de muitas coisas (o descanso, a vida em família, os passeios, o usufruto da Natureza ou da Cultura, mesmo o dinheiro que é gasto em espectáculos de tão fraca qualidade) para seguir o futebol, de forma obcessiva, se não for ao vivo, pela televisão.
Alguns acontecimentos recentes, relativos a um clube dos maiores de Portugal, da Europa e do Mundo (o “Glorioso” SLB) dão que pensar. No entanto, parece que os adeptos da “Águia” não lhes dão grande importância: depois das peripécias da presença ou da ausência na Taça da Liga (os dirigentes, na maior parte das vezes, se tivessem juízo, fariam melhor se estivessem calados, em vez de desfilarem vaidades e ódios, na Comunicação Social – e esta é uma espécie de abutre, caindo em cima das suas vítimas – o clube, conhecido pelo seu ecletismo, anunciou que vai acabar com as modalidades amadoras, em favor de financiamentos mais urgentes, envolvendo “instalações desportivas” que o mesmo é dizer, “negócios com terrenos” e “acções na Bolsa”. Uns dias depois, o Benfica ficou cotado na Bolsa, sujeito aos desvarios da especulação, para “enriquecimento patrimonial” de alguns que já são “ricaços da nossa praça”. Finalmente, o tal Berardo (que ganhou uma “pipa de massa”, ao “emprestar” quadros ao Centro Cultural de Belém – o Estado enfia cada barrete!), pretende, agora, “para o salvar”, com grande desprendimento e com maior generosidade, comprar o clube!
Os sócios e os adeptos que se amanhem. E o glorioso Sport Lisboa e Benfica, o clube do Eusébio e do Coluna, que se cuide. Depois dos negócios com a Caixa Campus, este novo negócio pode fazer com que o manjar fique a cheirar a esturro, caso a SMVM o permita.
E lá se irão ao ar as jogadas do Rui Costa, as fintas do Simão Sabrosa e os golos do Nuno Gomes que, na realidade, duvido que sejam as prioridades de quem entra, no Benfica, para fazer grandes engenharias financeiras.
Para desgosto do “Zé Povinho” que gosta de um espectáculo chamado Futebol e que de espectáculo, na verdade, já tem muito pouco.
Agostinho Chaves