A obra, com o título “S. João da Pesqueira – Património Imaterial: linguagem, lendas e mitos”, resultou da investigação realizada no âmbito do Centro de Estudos de Letras da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), a que o autor pertence. Viajando pelas aldeias do concelho, foram alvo de recolha e estudo memórias históricas e simbólicas, saberes ancestrais, marcas de religiosidade, narrações de batalhas entre mouros e cristãos.
É possível encontrar nesta publicação registos lendários de almas penadas que se manifestam “ruidosamente” no cemitério, um monge que salvou uma criança órfã de três meses amamentando-a pelos seus próprios mamilos, a mão do morto roubada no cemitério e usada como talismã pelos criminosos, o demónio saltitão que deixou as garras gravadas nos penedos, o lobisomem que em vez que cavalgar voava sobre o rio Douro percorrendo sete paróquias numa hora, uma aldeia que mudou de lugar para fugir às invasões de gafanhotos e formigas, a história de um monge escultor que lançando um relicário ao mar tenebroso acalmou as águas e os ventos livrando do naufrágio os peregrinos de Jerusalém, um alcaide mouro que cobrava como imposto, em cada ano, a mais formosa donzela das redondezas. Marcante é também a história de Frei Baltasar da Piedade, que viveu em clausura do Convento de S. João da Pesqueira até aos 112 anos e que, adoecendo com 11 anos de idade, foi dado como morto e sepultado, tendo sido desenterrado vivo dias depois, “apenas apresentando fraturas de uma perna e costela provocadas pela enxada do coveiro”.
A obra aborda, ainda, entre as muitas narrações, o segredo da ascendência moura dos Távoras, assim como a saga do temerário Conde de S. João que aterrorizou as populações raianas da Galiza, e também a lenda de Dona Antónia (a célebre “Ferreirinha”) que se salvou do naufrágio no Cachão da Valeira graças à saia de balão que usava, e que viu afundar-se o Barão de Forrester devido ao peso de um cinto que levava cheio de moedas de ouro.