Longe de poder-se afirmar que “antes de nós nada havia e depois de nós, tudo aconteceu”! Vive-se numa materialidade construída e deseja-se a imaterialidade seja de que forma for, pois nada como apreciar o património cultural local com forte vivência atual para apelar ao voto.
Em Vila Real, o desejo de materializar como património o património imaterial parece algo com tradição, mas de vontade está o inferno cheio. Uma vez mais é demonstrado, publicamente, que “só é património cultural” aquilo que dá jeito ao executivo, não aquilo que caracteriza uma cidade ao longo da sua existência.
Recordar os “famosos vestígios arqueológicos” que a obra na rua Marechal Teixeira Rebelo pôs a descoberto que, após uma “cuidada seleção”, valorizaram apenas uma das duas fontes cobertas, no âmbito de um projeto de Valorização da História Medieval da cidade. Na rua onde existem três fontes e um penedo com arte rupestre, talvez se deva espera por um outro projeto de caridade patrimonial. A seleção do que querem que seja visto como património demonstra também constatações: o de desleixo e desrespeito pelo passado histórico local.
Se há dúvidas que antes de 2013 nada existia ou foi feito localmente, vergonhosamente, o que foi feito ao que resta do património cultural da cidade deixa muito a desejar.
Presenteiam-se artistas e outras figuras públicas com peças de “Barro de Bisalhães” encomendadas sabe-se lá aonde e a quem. Toleram marcas de tinta verde e números pintados nas pedras do muro da Igreja do Bom Jesus do Calvário, sinónimo do nível de desleixo do município em repor à originalidade de algo que entenderam ser obra de interesse público, mas que ainda não está ao serviço público. No entanto, pretendem valorizar aquilo que é intangível, o património imaterial! Verde é a cor do dinheiro e os grafitos numerados poderão simbolizar no futuro algo que intrigará muitos outros visitantes da cidade.
Também, claramente, se vê que nem da própria casa cuidam, aos olhos de todos, que depois de um acidente causado na escadaria dos Paços do Concelho, antigo Hospital da Divina Providência, um edifício do século XIX, originado por uma festa municipal, o corrimão continua à espera que alguma alma caridosa resolva este gigante desinteresse municipal.
O que esperar sobre o financiamento e obra de musealização da Central do Biel, também classificado como património pela mão deste executivo, e qual a esperança que obtenha o devido apoio, reconhecimento e dinamização após a inauguração?
Talvez o que rende mais é mesmo a imaterialidade patrimonial que ninguém vê mas sente que existe alguma coisa.