No ponto 3 do documento, escreve o Papa: “Portanto estabeleço que o III Domingo do Tempo Comum seja dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus. Este Domingo da Palavra de Deus colocar-se-á, assim, num momento propício daquele período do ano em que somos convidados a reforçar os laços com os judeus e a rezar pela unidade dos cristãos. Não se trata de mera coincidência temporal: a celebração do Domingo da Palavra de Deus expressa uma valência ecuménica, porque a Sagrada Escritura indica, a quantos se colocam à sua escuta, o caminho a seguir para se chegar a uma unidade autêntica e sólida.”
A Carta Apostólica recorda-nos que “O Concílio Ecuménico Vaticano II deu um grande impulso à redescoberta da Palavra de Deus, com a constituição dogmática Dei Verbum. Das suas páginas que merecem ser sempre meditadas e vividas, emergem de forma clara a natureza da Sagrada Escritura, a sua transmissão de geração em geração (cap. II), a sua inspiração divina (cap. III) que abraça o Antigo e o Novo Testamento (caps. IV e V) e a sua importância para a vida da Igreja (cap. VI). Para incrementar esta doutrina, Bento XVI convocou em 2008 uma Assembleia do Sínodo dos Bispos sobre o tema «A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja» e, depois dela, publicou a exortação apostólica Verbum Domini, que constitui um ensinamento imprescindível para as nossas comunidades. Neste Documento, aprofunda-se de modo particular o caráter performativo da Palavra de Deus, sobretudo quando, na ação litúrgica, emerge o seu caráter propriamente sacramental.”
O Motu Proprio foi tornado público no dia em que a Igreja Católica celebrou a memória litúrgica de São Jerónimo (conhecido tradutor da Bíblia para Latim), no início do 1600º aniversário da sua morte (N.347-F.30/09/420) , que afirmou: “A ignorância das Escrituras é a ignorância de Cristo.”
Apesar de estar consciente de que “não vá o sapateiro além da chinela”, atrevo-me a expressar a minha firme convicção de que este é um tempo mais do que propício para que as comunidades paroquiais tomem verdadeira consciência de que modo a Palavra de Deus está a ser proclamada pelos seus leitores, nas celebrações litúrgicas. E para que os leitores reconheçam que proclamar a Palavra de Deus não é um “direito” ou um “dever”, mas é um serviço que prestam à respetiva comunidade, na humildade e na alegria de quem se sente sempre um entre todos os outros Filhos de Deus!
Para se ser um bom leitor, não basta querer (quando não, muitas vezes, exigir!) “subir” ao ambão e “fazer as leituras”. É necessário possuir e desenvolver caraterísticas específicas, com dedicação e empenho, tendo consciência de que apenas emprestamos a voz ao Autor dos textos! E não nos podemos esquecer que, quando a leitura, por qualquer motivo, é “defeituosa”, o mais certo é a Palavra de Deus não ter chegado, nas condições adequadas aos ouvintes, quantas vezes ávidos de uma “palavra” que os ilumine e os ajude a enfrentar uma nova semana de “vida”.
Fiquem com Deus!