Domingo, 12 de Janeiro de 2025
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José Pinto
José Pinto
Técnico Superior de Educação

O enterro da paróquia (II)

Saindo rapidamente da sacristia, a Ti Maria foi contar às idosas presentes o que o padre lhe tinha acabado de confirmar: em lugar da habitual missa das seis, o padre ia celebrar uma “missa de corpo presente” e, logo de seguida, ia fazer o “enterro da paróquia”.

Como folhas secas levadas pelo vento, as senhoras foram apressadamente contar o que tinham acabado de ouvir aos seus familiares e vizinhos, aproveitando para informar quem encontravam pelo caminho. Rapidamente a notícia do “enterro da paróquia” chegou aos ouvidos de todos os habitantes, de tal modo que, ainda as seis horas da tarde vinham longe, já a igreja estava apinhada, num número tal que transbordava para o adro.

Chegada a hora marcada pelo padre João, chegou à porta da igreja o cangalheiro. Parou e abriu a porta traseira da viatura. Olhando para os curiosos que se aproximaram, pediu-lhes: “Não se importam de dar aqui uma ajudinha? Preciso de quatro homens fortes”.

Sem que houvesse necessidade de repetir, pois a curiosidade era imensa, e não havia tempo a perder para que se fizesse o “enterro da paróquia”, quatro pares de mãos agarraram na urna, puseram-na aos ombros e transportaram-na até junto do altar.

O padre João celebrou a missa de “corpo presente” e, no final, dirigiu-se a todos os que ali estavam, dizendo: “Meus irmãos e minhas irmãs. Antes de mais quero agradecer a presença de todos neste momento em que vamos proceder ao “enterro da paróquia”. Mas, antes de levarmos o caixão até ao cemitério, quero convidar-vos a todos, para, individualmente, vos despedirdes da falecida. Façam uma fila ao centro e aproximem-se da urna, calmamente.”

O povo presente logo se apressou a fazer uma fila no centro da igreja, e todos começaram a caminhar em direção ao esquife, que o padre abriu. Quando o primeiro lá chegou, deu um grito e um salto enorme, afastando-se rapidamente do caixão, benzendo-se repetidamente. E o mesmo aconteceu com todos os outros. Qual teria sido a razão de tal comportamento?

Iluminado por Deus, o padre João tinha colocado dentro da urna um enorme espelho, de tal modo que, quando alguém olhava lá para dentro, o que via era a sua própria imagem refletida no espelho.

Efetivamente, a Paróquia não é uma entidade abstrata, mas é o conjunto das pessoas que, vivendo numa mesma área geográfica, professam, testemunham e celebram a mesma fé em Jesus Cristo. A Igreja não é o edifício onde se pode rezar e celebrar os sacramentos, mas são todos os batizados que foram chamados por Deus à santidade, e que, por isso, constituem o Corpo de Jesus. A Igreja é o Corpo Místico de Cristo, do qual Ele é a Cabeça. (1Cor 12,27; Col 1,18; Ef 1, 22-23; cf. Lumen gentium, 7) Dito de uma forma simples e direta: o “enterro” de uma paróquia não é mais nem menos do que o “enterro” de cada um que vive nessa mesma paróquia, pois se uma paróquia está morta, é porque a vida espiritual de cada um dos seus habitantes batizados já morreu há muito.

Para terminar. Qual tem sido o papel de cada um de nós na vida quotidiana da nossa paróquia? Ou será que temos estado a dar um grande contributo para o “enterro” da nossa paróquia?

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