Chega ao fim 2006. Um ano em que o distrito de Vila Real ficou marcado por alguns acontecimentos positivos e negativos. No “pacote” do melhor, podemos incluir a construção de algumas acessibilidades, nomeadamente alguns troços da A24, entre Vila Real e Chaves, a dotação de alguns Municípios de equipamentos culturais e sociais, o anúncio da disponibilização de verbas para a construção do Museu do Douro, as comemorações dos 250 anos da Região Demarcada do Douro e a criação da Unidade de Missão para o Douro. No desporto, destaque para a presença de várias equipas de escalões jovens, nas provas nacionais de futebol.
No pólo oposto, o rol é mais extenso. Sobressai a grave crise que assola a lavoura duriense que, infelizmente, transita para o novo ano. Os problemas “eternos” da Casa do Douro e a questão dos seus trabalhadores, o desemprego, o encerramento e a deslocalização de alguns serviços que “esvazia” ainda mais as localidades mais encravadas do distrito. Ao nível desportivo, a crise também bateu à porta de algumas das colectividades mais representativas do distrito, nomeadamente o Grupo Desportivo de Chaves e o S. C de Vila Real.
Autarquias do interior mais penalizadas
Neste nosso trabalho, registámos a opinião de algumas pessoas, ligadas a instituições e a outras actividades.
O Presidente da Câmara Municipal de Murça, João Teixeira, foi um deles.
“Como positivo, não posso esquecer alguns factos que marcam 2006. Nomeadamente, as comemorações dos 250 anos da Região Demarcada do Douro. Um acontecimento que fez com que o Douro fosse falado, nos quatro cantos do Mundo. Bem como a criação da Unidade de Missão, para o território classificado pela UNESCO. Decisão que se espera venha a ser uma realidade. As acessibilidades foram uma área onde as coisas evoluíram. A inauguração dos troços da A 24, entre Vila Pouca de Aguiar e Chaves, o anúncio do novo Plano Rodoviário Nacional que contempla a construção do IC 26 para o Douro e o Túnel do Marão. Realço, localmente, a assinatura do protocolo entre o Ministério da Saúde, Trabalho e Solidariedade Social e a Santa Casa de Misericórdia de Murça, para a concessão de cinquenta camas para a Unidade de Cuidados Continuados. Pelo lado menos positivo, saliento que 2006 voltou a ser um não redutor, em termos de receitas próprias, para os Municípios. A não contemplação, no PIDAAC 2007, de algumas obras estruturais, desejadas pelas autarquias, o que acentua a tendência da litoralização do investimento público, em detrimento das autarquias pequenas. Houve pouco investimento público. O encerramento de escolas e a ausência de complementaridade, a nível de fundos, por parte do Governo, para os Municípios, para a rede escolar. Espero que o futuro QREN venha ajudar a promover um maior desenvolvimento regional”.
2006 não deixa saudades
O jornalista da Rádio Universidade, Luís Mendonça, foi mais “acídulo”, quanto ao último ano.
“Julgo que 2006 não deixa saudades ao desenvolvimento regional, em particular ao Distrito de Vila Real. Continuam a ser adoptadas as mesmas políticas de centralismo e de incremento à desertificação do interior. Mudam- -se os Governos, mas as opções são as mesmas, nesta área. Ou seja: 2006 representou mais um acentuar do esvaziamento a que as regiões longe do litoral estão votadas. Continuam a faltar medidas concretas que possam possibilitar, realmente, o progresso regional, com expressão na qualidade de vida das populações. Como positivo, apenas saliento o facto de 2006 estar a chegar ao fim. E que 2007 seja diferente, para melhor”.
O Presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Vila Real, Alfredo Almeida, também nos deu a sua opinião, quanto ao mais ou menos do Distrito, embora focasse tema alusivo à sua “especialidade”.
“Julgo que a redução do número dos fogos florestais, no Distrito de Vila Real, e da respectiva área ardida, foram elementos importantes, referentes ao ano que passou. No sentido oposto, noto algumas deficiências logísticas, no apoio aos bombeiros, no terreno. Principalmente no que respeita à distribuição de alimentação e transporte de homens, aquando da ocorrência de incêndios. Há muitas deficiências nesta parte e que têm de ser suprimidas”.
Por sua vez, Vítor Nogueira, director do Teatro de Vila Real, referiu que 2006 teve alguns momentos marcantes, como foram as comemorações dos 250 anos da Região Demarcada do Douro.
“Apesar do pouco tempo e da escassez de recursos, conseguiu organizar-se vários eventos, alusivos a tão importante data. Por outro, destaco os primeiros passos para a construção do Museu do Douro e o facto que registo com muito agrado tem a ver com o Teatro de Vila Real registar, pela terceira vez consecutiva, uma subida, no que respeita ao número de espectadores”.
Vítor Nogueira, no aspecto negativo, referiu “a existência, ainda, de muitas lixeiras, a céu aberto, na região do Douro, uma realidade que 2006 não apagou” e que considera ser “uma autêntica vergonha “.
Situações positivas raras, no Douro
O Presidente da Câmara Municipal de Santa Marta de Penaguião, Francisco Ribeiro, considerou que “a melhoria de acessibilidades, no distrito, mormente a conclusão de vários troços da A24, entre Vila Real e Chaves, foram factos importantes, dado serem vias importantes e que, de facto, podem trazer mais progresso, para as regiões onde estão construídas”. No reverso da medalha, o autarca não esquece a crise do Douro. “Está instalada uma grave crise económica na viticultura e que afecta muitos trabalhadores, lavradores e suas famílias. 2006 foi mau para o sector e, se tudo continuar assim, nos próximos três anos estará instalada a ruína total, entre muitas pessoas, no Douro”.
Para José Ribeiro, Presidente da Adega Cooperativa de Alijó, situações positivas registadas em 2006, “foram raras”, mas deixa “duas expectativas positivas”: “A criação da Unidade de Missão para o Douro e o anúncio da construção da auto-estrada, entre Amarante e Bragança”. No lado negativo, salientou “a grande concorrência que existe no sector dos vinhos, nomeadamente com a globalização de mercados, e queda constante de preços que está provocar muitas dificuldades ao sector cooperativo e aos lavradores associados”. Por fim e ainda em relação a 2006, deixa um “recado negativo”: “As comemorações dos 250 anos da Região Demarcada do Douro não trouxeram mais valias para a região, nem foram eventos de cunho popular que tivessem visibilidade e que envolvessem quem trabalha a terra, ou seja: os trabalhadores e os lavradores. Apenas serviu para alguns se divertir e ganharem algum dinheiro” – disse.
josé manuel cardoso