O domingo na Expo Dubai será dedicado às Nações Unidas, facto que ainda responsabiliza mais esta comitiva proveniente do interior profundo em representação de Portugal num dia “tão importante e símbolo”.
A Lusa acompanha a comitiva dos Pauliteiros de Miranda e o dia será dedicado ao reconhecimento do espaço de atuação do grupo, que fará duas atuações junto do Pavilhão de Portugal na Expo Dubai 2020.
Os dançadores e tocadores vão fazer os planos para aí executarem as suas conhecidas danças ou “lhaços” e assim mostrar ao mundo toda a vitalidade destas danças ancestrais cuja origem se perde nos tempos.
A ansiedade é grande, dado ser uma oportunidade “única” da cultura da Terra de Miranda de se apresentar ao mundo e assim obter reconhecimento global para o tão ansiado reconhecimento como Património Imaterial da Humanidade.
Alfredo Delegado é um dos dançadores do grupo de Pauliteiros de Miranda que integra a comitiva e não esconde a grande responsabilidade de mostrar ao mundo a dança dos paus tão característica do Planalto Mirandês, no distrito de Bragança, e sabe a responsabilidade que o grupo que representa tem sobre esta oportunidade única.
“Trabalhámos muito ao longo dos últimos anos e tudo tentaremos fazer para obter reconhecimento para que os Pauliteiros de Miranda sejam reconhecidos como Património da Humanidade. É um momento histórico e de grande responsabilidade”, disse à Lusa o dançador.
Já Xavier Rodrigues, o gaiteiro do grupo, abriu o repertório e disse que os cinco “lhaços” que vão ser dançados são dos mais emblemáticos da cultura do Planalto Mirandês tais como o Assalto ao Castelo, 25 de Roda, Fado, entre outros.
Por seu lado, o também dançador Rui Preto vinca que esta é a oportunidade que faltava para que os pauliteiros tivessem “o seu verdadeiro reconhecimento mundial” através da Expo Dubai 2020.
“O esforço foi enorme e esperamos ser recompensados com este tipo de atuações já que foi uma longa viagem onde a burocracia e a logística foram enorme”, vincou.
A origem da dança dos Pauliteiros não reúne consenso entre os investigadores
“Esta terá nascido durante a idade do ferro, na Transilvânia, espalhando-se posteriormente pela Europa”, afiançam alguns.
Há referências a certos povos que habitaram na península no século III (d.C) e se preparavam para os combates com este tipo de danças, trocando apenas as espadas pelos paus de 45 cm, evitando riscos desnecessários.
Posteriormente, os povos conservaram estas danças para celebrarem a recolha dos frutos e dos cereais, assim como a passagem dos solstícios de Verão e Inverno.
Alguns autores, tal como o Abade de Baçal, defendem que a sua origem se deve à clássica dança pírrica guerreira dos gregos.
Este investigador, já falecido e tido como uma das maiores referências etnografia do Nordeste Transmontano, dizia que via poucas diferenças entre esta dança e a dança dos Pauliteiros tais como a substituição das túnicas pelas saias, o escudo pelo lenço sobre os ombros, os chapéus enfeitados e a utilização da flauta pastoril.
Mas a dança dos pauliteiros manifesta também vestígios de danças populares do sul de França e na dança das espadas dos Suíços na idade média.
Os romanos seriam os responsáveis pela propagação da dança pírrica a esta região.
Helder Ferreira um dos elementos que há cerca de dois anos prepara a candidatura dos Pauliteiros de Miranda a Património da Humanidade refere que o processo se atrasou um pouco devido à pandemia.
“Para já fizemos o registo no Matriz PCI – Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, para depois mais tarde se avançar com as formalidades da candidatura. Este registo é obrigatório desde 2018 e está praticamente pronto”, explicou.
Contudo, o também investigador adiantou que os pauliteiros já representam a cultura do Planalto Mirandês em muitos países europeus e estão de “boa saúde e cheios de vitalidade”, fruto do seu percurso um pouco por todo o mundo.
Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte, indica que a presença dos pauliteiros no Dubai é mais uma oportunidade para que Porto e Norte se possam fazer representar naquele que é tido como o maior evento que realizado após a pandemia e que reúne pessoas de todo o mundo.
“Esta é uma oportunidade para mostrar a nossa cultura, através dos pauliteiros e permitir um contributo para a sua candidatura a Património Imaterial da Humanidade e depois também podermos apresentar a região do Porto e Norte e fazer contactos com convidados e outros influentes “, vincou o responsável.
As duas autuações dos Pauliteiros de Miranda na Expo Dubai 2020 estão agendadas para as 17:35 e 19:30 (20:35 e 22:30 em Lisboa) em frente ao Pavilhão de Portugal.