Ao contrário do que seria expectável, Márcio não se deixou ir abaixo e encarou a sua nova condição com otimismo.
“Não foi fácil receber a notícia e não há idades fáceis para nos tornarmos tetraplégicos”, começa por dizer, admitindo que “eu era uma pessoa muito ativa, adorava praticar desportos radicais e praticar futebol. Houve sonhos que, naquele momento, desapareceram”. Mas nem por isso baixou os braços.
Márcio frequentou o ensino superior e hoje, com 40 anos, é provedor do cidadão com deficiência ou incapacidade da Câmara Municipal de Vila Real, figura que, em Portugal, existe apenas em seis autarquias.
“O objetivo da figura do provedor do cidadão com deficiência é promover políticas municipais inclusivas”, indica, revelando que “cerca de 40% das pessoas que vão ter comigo têm algum tipo de deficiência, mas também sou procurado por entidades e familiares dessas pessoas, no sentido de pedirem esclarecimentos ou ajuda para determinados apoios”.
No programa “Contrasenso”, da VTM, Márcio Martins admitiu ser “um elo de ligação entres as pessoas que me procuram e o município ou outras entidades, como a Segurança Social ou o IEFP”. E confessa que “há entidades que me contactam no sentido de as ajudar a tornar o seu espaço acessível a pessoas com deficiência, seja qual for a incapacidade”.
Nos últimos anos tem havido um maior interesse por esta área, contudo, “ainda há um longo caminho a percorrer”, admite o provedor, desde logo no mercado de trabalho, porque “há falta de oportunidades”. Mas o problema, afirma, está também no ensino, com Márcio Martins a salientar que “apenas 3% das pessoas com deficiência ingressam no ensino superior. E dessas, muitas desistem porque os edifícios, e sobretudo os professores, não estão preparados para receber um aluno com deficiência”.
No que diz respeito às acessibilidades, lamenta o facto de Portugal não ser “um país para pessoas com deficiência”. “Existe uma evolução, mas ainda há muito para fazer”, afirma, dando como exemplo as rampas de acesso aos edifícios que, em muitos dos casos, “são demasiado inclinadas”, ou os elevadores, “onde nem cabem cadeiras de rodas”.
“É preciso legislação e, sobretudo, fiscalização a essa legislação. Não vamos lá só com ações de sensibilização. Vemos isso, por exemplo, com os lugares de estacionamento”, vinca.
No caso de Vila Real, Márcio admite que “tem havido muitas mudanças no sentido de se tornar uma cidade mais acessível”, seja com as reabilitações das ruas, que “permitem ter passeios mais largos”, seja com a instalação dos elevadores no Calvário e no Bairro dos Ferreiros, que “eliminam desníveis”, ou com os autocarros urbanos, que “têm rampas que permitem que pessoas como eu os possam usar”.
“Aos poucos, vamos melhorando. Não ao ritmo que todos desejariam, mas o importante é que o trabalho seja feito, de forma eficaz”, conclui, revelando que “95% das situações que nos foram reportadas, foram resolvidas”