São interpretadas por determinados extratos sociais, normalmente, jovens. Não imaginava eu que, quando registei numa breve referência do meu último “Visto do Marão”, o movimento originado por Greta Thunberg se manifestasse a tão breve prazo na minha cidade. Pois os jovens do ensino secundário de Vila Real, um número significativo, diga-se, participaram na Greve pelo Clima do passado dia 15. Jovens de uma das cerca de 26 localidades do país; uma das muitas localidades de todo o mundo, unindo a sua voz, a sua consciência crítica, o seu espírito cívico, o seu exercício de cidadania ao de muitos outros jovens, espalhados por todo o mundo, afirmando, tal como Greta Thunberg, “façam o que a ciência e as Nações Unidas dizem que é preciso fazer”. Interessante! O Secretário-geral das Nações Unidas António Guterres viu neste movimento um forte aliado; entendeu-o assim.
E fez eco da sua causa num artigo de opinião no Diário de Notícias
As palavras de ordem, simples e diretas eram de fácil compreensão. E quando necessário, à falta de potentes aparelhagens sonoras, recorriam a boas vozes, bem límpidas e timbradas, mesmo depois de uma caminhada desde além da Araucária, com a força da convicção de quem se sente com razão para dizer bem alto “Reciclar não chega”, “Paremos de
Perseguir o Mundo”, “Não há Planeta B”, “A Terra a Morrer, Políticos Só a Ver”, entre outras.
Utopias, dizem uns. Estes jovens deixam a luz do quarto acesa, quando saem, sussurram outros. O que quiseram foi faltar às aulas. Mas a verdade é que eles testemunham perante todos, nomeadamente, perante as gerações mais velhas, uma grande consciência ambiental.
A geração hoje no poder, que se sente questionada por esta geração que, agora, saiu à rua, também teve o seu tempo de utopia, também exigiu “Somos jovens e queremos mudar o mundo”. Foi a Geração do Maio de 68. Também por esse tempo estiveram em confronto velhos e novos padrões, diferentes formas de encarar os problemas e mudar o mundo. A Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria, a Guerra do Vietnam haviam provocado várias tensões na sociedade, interpretadas de modo diferente pelos poderes de então. E foram os jovens, (lembramo-nos?) que saíram à rua, em Paris, em Coimbra, um pouco por toda a parte. Mais recentemente, a vontade, a necessidade de “mudar o mundo” é objeto das conversas que Noam Chomsky relata no seu livro com esse mesmo nome. E convida-nos a refletir sobre as grandes questões que se colocavam à sociedade no início do séc. XXI – as democracias árabes, os desastres nucleares, a “luta de classes” entre grupos sociais, o desmoronamento de instituições políticas e o reforço do poder da extrema-direita.
Hoje, os jovens convidam-nos a olhar com mais atenção para as questões do clima. A consciencialização que eles testemunham merece a nossa atenção. De todos.