Segundo nos foi apresentado (porque o documento original ainda não foi divulgado),as bandeiras deste acordo são “reduzir de forma significativa a subsídio dependência”, “criar um gabinete regional de luta contra a corrupção” e desencadear um processo de revisão constitucional que culmine com a redução do número de deputados.
Se a luta contra a corrupção é um lugar comum de todos os partidos com assento parlamentar, aquilo a que o Chega chama “subsídio dependência”, é algo que por certo arrepiaria Francisco Sá Carneiro. Sendo os Açores uma região onde apenas o concelho de Ponta Delgada possui um poder de compra ligeiramente acima da média nacional, aquilo a que o Chega chama subsídio dependência, qualquer social-democrata chamará políticas activas de redistribuição de rendimentos. Políticas essenciais à melhoria das condições de vida
dos mais desfavorecidos.
Por seu turno, a redução do número de deputados encerra em si mesma um pecado capital, estando demonstrado que a redução do número dos deputados diminui a representatividade territorial dos mesmos, os distritos como o nosso que já hoje elegem menos deputados, veriam muito provavelmente a sua representação (ainda mais diminuída).Esta redução do número de deputados,se concretiza da de forma aritmética, resultaria assim num parlamento para as elites e não eleito pelo povo. Situação bem do agrado dos populistas que, sempre com o povo na boca, ensina-nos a história, se encontram sempre respaldados pelas elites (pelo menos financeiras e económicas).
Mas o que verdadeiramente choca nesta aliança do PSD com o Chega não é nem a questão programática (já de si suficiente), ou o natural concerto de uma solução parlamentar tendente a alicerçar um governo, perfeitamente dentro da normalidade constitucional em regimes democráticos de pendente parlamentar como o nosso.
O que nos choca é que um grande partido da Democracia Portuguesa como o PSD, tradicionalmente responsável, entenda como razoável e normal celebrar um acordo deste tipo com um partido populista, nacionalista, extremista, xenófobo e demagogo como o Chega. Em Democracia, formal ou informalmente, um partido com a categoria do PSD não deveria legitimar este ideário do Chega. E foi isto precisamente que Rui Rio fez: para garantir a sua primeira vitória eleitoral enquanto líder do PSD (uma vez que perdeu as eleições europeias e legislativas em 2019), fez tábua rasa dos mais basilares princípios da social-democracia em que o PSD se fundou.
O que Rui Rio não disse (ainda) é que esta coligação com o Chega veio para ficar, desmerecendo todo o património de valores do PSD, Rui Rio prepara-se para apresentar candidaturas em Coligação nas próximas eleições autárquicas. Veremos se o CDS aceita entrar no mesmo barco que o Chega e se os portugueses,sempre sábios nas escolhas eleitorais que fazem, votam num partido como o Chega, mesmo que coligado com o PSD.