Domingo, 12 de Janeiro de 2025
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Górgias actual?

Corria o já demasiado longínquo ano de 2003 quando, pressionados a escolher uma obra clássica para o exame nacional de Filosofia (prévio e condição essencial para o ingresso no Ensino Superior), inspirados/desafiados por uma ilustre e exímia Senhora Professora de Filosofia (já agora, diga-se, essencial para o desfecho desse exame que se constituiria como o Rubicão de tudo o que sucedeu até à presente data) e, pelo gosto que a temática nos inspirava, escolhemos estudar a obra Górgias de Platão.

Nesta obra, Platão debruça-se sobre a Retórica, qual a sua função e como esta deve ser utilizada. Ao longo de toda a produção filosófico-literária, Platão estabelece o confronto entre os dois usos opostos da linguagem: como instrumento de poder e como instrumento de verdade.

Numa imagem, será a retórica (ou a política…) apenas uma forma de adulação ao serviço do poder, sem ligação necessária com a moral e a justiça? Ou, pelo contrário, pode o poder da palavra (escrita ou pronunciada) ser o cimento da construção dum ideal de realização humana? Ainda que se constitua como um tema que daria “pano para mangas”, em ano de eleições autárquicas, perante a espuma dos dias, importa sobre ela um pouco reflectir.

Quando parece proliferar a narrativa inflamada de alguns protagonistas (felizmente poucos), será relevante percebermos que, tal qual como os sufistas na obra de Platão, se não tivermos a honestidade intelectual de fazer balanços sérios da actividade autárquica, estaremos também condenados a não conseguir materializar projectos autárquicos alternativos credíveis aos olhos da população.

Concretizando, sempre que utilizando a palavra (escrita ou pronunciada) nos limitarmos a desmerecer tudo quanto tem sido feito pelos responsáveis autárquicos na nossa Pólis e, a contrário, a exacerbar todas as arestas que, naturalmente existindo (porque nada nem ninguém é perfeito), estaremos condenados a desperdiçar o tempo de quem nos vê/ouve/lê. Desperdiçando este bem precioso que é o tempo, estaremos também a desperdiçar o capital político/eleitoral que se pretenda obter.

Senão vejamos, será possível numa análise racional e séria, não reconhecer o quanto Vila Real de facto avançou desde 2013? É intelectualmente honesto, tomar a nuvem por Juno e, fazendo menção a uma ou outra natural aresta, intitular os nossos protagonistas de adjectivos pouco urbanos? Cremos que não!

Tal qual como Platão nos ensinou, para os meses que aí vêm será necessária, ao invés de uma crítica sibilina e fácil, uma verdadeira preocupação na construção de projectos autárquicos alternativos credíveis e, acima de tudo, a mais bela das virtudes clássicas: a temperança.

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