Segunda-feira, 21 de Abril de 2025
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Presidenciais 2021

Pelo que, estas linhas pretendem ser uma reflexão desconstrutiva do conteúdo desses discursos.

Não se podendo escamotear que a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa foi avassaladora (com 2.411.925 votos, tendo ganho em todos os concelhos do nosso país), a verdade é que, neste prisma, ficou ainda aquém, por exemplo, da eleição de Cavaco Silva em 2006 (com 2.746.689 votos). Marcelo Rebelo de Sousa vence as eleições num difícil contexto pandémico, no centro democrático e com moderação mas, sem o resultado que pretendia: ultrapassar os resultados da eleição de Mário Soares em 1991 (com 3.459 521 votos).

Nesta linha de raciocínio, Ana Gomes (com 541.345 votos) ficou a larga distância de todas as candidaturas que no passado disputaram o mesmo espaço político como Sampaio da Nóvoa em 2016 (1.061.390 votos), Manuel Alegre e até Fernando Nobre em 2011 (respectivamente com 832.637 e 594.068 votos) e Mário Soares em 2006 (778.781 votos), não podendo deixar de ser reconhecido que os resultados obtidos ficaram muito aquém das ambições.

Tendo o populismo obtido resultado expressivo da noite (com 496.653 votos) a verdade é que estas eleições presidenciais, com a excepção do seu vencedor, permitem tirar cinco elações relevantes:

1 – O Chega, depois da sua democratização promovida por Rui Rio através da coligação nos Açores, passou a assumir-se como um problema para a Direita e para o PSD em Portugal porquanto, a continuar assim nas sondagens (com 24,1% de intenções de voto em 12.01.2021), Rui Rio terá de se aliar a André Ventura para poder sonhar com a sua eleição como Primeiro Ministro. Veremos aquilo que o Portugal moderado (que vale cerca de 60% do eleitorado), de centro, entenderá sobre esse facto;

2 – O CDS está em vias de extinção, podendo facilmente nas próximas legislativas, se não se reinventar, ficar atrás do Chega e da Iniciativa Liberal em próximos actos eleitorais;

3 – O voto contra o Orçamento de Estado para 2021 do Bloco de Esquerda parece claramente ter penalizado a candidatura apoiada pelo partido (perdeu quase 300.00 votos relativamente a 2016), voltando a confirmar que sempre que o Bloco “faz o jogo da Direita”, é penalizado nas urnas pelos “seus” eleitores. Será importante perceber qual será o comportamento deste partido em situações semelhantes nos próximos anos;

4 – A candidatura apoiada pelo Partido Comunista, por seu turno, consegue estancar o cenário de perda de votantes encetado desde a candidatura protagonizada por Jerónimo de Sousa em 2006. A solidez ideológica de João Ferreira e o comportamento responsável do PCP nos últimos cinco anos, parecem ter granjeado algum capital de credibilidade junto dos seus eleitores. Não podendo, no entanto, deixar de ser objecto de reflexão interna os resultados obtidos nos distritos de Beja, Évora e Setúbal.

5 – Qualquer elação que se pretenda retirar dos resultados destas eleições relativamente às eleições autárquicas que se avizinham (Outubro de 2021) e às eleições legislativas apontadas para Outubro de 2023 será por certo muito precipitada. Os Presidentes de Câmara, de Junta e Uniões de Freguesia e, particularmente António Costa e Rui Rio, possuem peso político e eleitoral próprios, como estamos certos os resultados eleitorais a seu tempo demonstrarão.

Não poderia deixar de concluir esta reflexão, sem uma palavra para todos aqueles que, mesmo em contexto pandémico agudo, deram de si para que todos os que quiseram, pudessem votar: uma palavra pública de reconhecimento a todos os elementos das mesas de voto (cerca de 65.000 pessoas) que, por esse país fora, permitiram que pudesse realizar-se mais um momento solene de Democracia.

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