A autarquia está determinada em tomar medidas para incentivar e sensibilizar os mais jovens a dedicarem-se à produção desta iguaria de forma a dar continuidade à riqueza gastronómica do concelho. Exemplo disso é a Feira Gastronómica do Porco, que conta com 27 edições, onde o fumeiro tem grande destaque, permitindo a divulgação do que de melhor se faz nesta região.
Ana Maria Cotas e Avelino Pereira são produtores de fumeiro há mais de 20 anos e são considerados os pioneiros da Feira Gastronómica do Porco. Ana Maria diz ter aprendido a arte com a mãe e desde pequena que se lembra de fazer fumeiro. Produz, de forma tradicional, a chouriça de carne, o chouriço de abóbora, o salpicão, o chouriço de farinha e a alheira, referindo que “todo o fumeiro tem muita saída, mas o chouriço de farinha nunca chega para todos”.
A sua criação anual é de cerca de 20 porcos que desmancha e transforma em fumeiro. Todo o processo de confeção é efetuado sem recorrer a qualquer tipo de maquinaria, de forma totalmente artesanal e demora cerca de um mês a ser feita.
“A criação do gado é feita em casa, com produtos que a gente colhe da horta. A partir de novembro vamos matando os porcos e vamos fazendo o fumeiro até fevereiro”, explica.
Participa na tradicional Feira Gastronómica do Porco desde 1998, ano da sua criação, e diz que o negócio sempre correu muito bem, uma vez que vende todos os produtos que confeciona. “Mais eu tivesse para vender”, afirma.
Apesar do negócio correr bem, diz que “ainda se gasta um bocadinho, porque temos de comprar a tripa, a linha, o colorau, entre outras coisas, que é sempre uma despesa, pois está tudo muito caro”.
Conta que foi a partir do certame que angariou mais clientes. Atualmente, as vendas são todas feitas a partir de casa, no entanto, “se houver uma feirinha de Natal, na Páscoa ou no verão costumamos participar, mas é um negócio familiar onde o fumeiro se faz apenas com a ajuda do marido”, frisou. E acrescenta que “tenho uma filha que também fazia fumeiro, mas agora dedica-se a outra atividade e nós vamos fazendo, enquanto tivermos posses”. Em breve vai deixar de confecionar estes produtos, mas garante que este ano ainda será de muito trabalho e que no próximo “logo se vê”.
PRODUÇÃO INDUSTRIAL
No que diz respeito à produção mais industrial, o fumeiro continua a ser detentor de uma qualidade excecional e de um sabor único.
Assunção Rosinha, diretora de produção da Dom Fumeiro, em Boticas, conta que “a fábrica dedica-se a fazer fumado de enchidos tradicionais e, aliada a esta tradição, temos toda uma tecnologia e um saber fazer com garantia de qualidade”.
De forma a poderem obter um público mais abrangente, e pela carência de mão de obra, Assunção explica que “unimos a tecnologia à produção artesanal, ou seja, já temos máquina de encher, máquina de atar, mas a secagem continua a ser feita com lenha de carvalho. No entanto, ainda fazemos algum fumeiro de forma completamente tradicional, porque temos clientes que assim o exigem”.
Um dos objetivos da fábrica é levar o fumeiro da região do Barroso muito mais além, com Assunção a referir que “nós não pensamos só em vender fumeiro, temos de vender uma história para que as pessoas, ao provarem, sintam curiosidade em visitar-nos para adquirirem estes produtos, in loco. Sendo Boticas considerado Património Agrícola Mundial, acredito que o nosso fumeiro acaba sempre por ter um sabor diferente”.
O salpicão do lombo, o salpicão entremeado, a sangueira, a barriga e a alheira fumada, produtos fabricados pela Fumeinor (Dom Fumeiro), são alguns dos produtos que foram distinguidos com medalhas de ouro e bronze no Concurso Nacional de Fumeiros Tradicionais.