61% do eleitorado português tem os seus rendimentos diretamente dependentes do Estado, mais 27 pontos percentuais do que se verificava em 1980. O país está mais envelhecido e, embora isso não explique tudo, hoje a maioria dos adultos portugueses vive na dependência do Estado. Isto tem diversas implicações relativamente às prioridades de quem nos governa e colocando em causa muitas das reformas necessárias para o nosso país.
Em 1980, de acordo com os cálculos de Vítor Bento, economista e atual Presidente da Associação Portuguesa de Bancos, 34% da população adulta portuguesa tinha rendimentos dependentes do Estado, sobretudo pensionistas (25%), seja da Segurança Social (SS) ou Caixa Geral de Aposentações (CGA), e funcionários públicos (7%), seja das Administrações Públicas (AP) ou do Setor Empresarial do Estado (SEE).
Em 2022, a realidade é muito diferente. Usando a mesma metodologia de Vítor Bento, verificamos que 61% dos adultos portugueses tem rendimentos dependentes do Estado, seja este o pagador direto dos mesmos (50%), seja o decisor do rendimento pago pelo setor produtivo (11% recebe salário mínimo, fixado pelo Estado).
A população está mais envelhecida e, naturalmente, os pensionistas continuam a ser o grupo maioritário (35%), mas o seu peso no total de dependentes até diminuiu. Em 1980 era de 71% e em 2022 tinha baixado para 58%. Ou seja, o aumento da dependência do Estado vai para além do envelhecimento populacional. Os funcionários públicos pesam hoje 11% no total da população adulta portuguesa, 3% recebem o Rendimento Social de Inserção (RSI), que não existia em 1980, e 11% recebem o Salário Mínimo Nacional (dependentes indiretos do Estado que representavam apenas 2% da população adulta em 1980). O peso dos beneficiários do Subsídio de Desemprego continua a ser residual, próximo de 1%, tanto em 1980 como em 2022.
Reformar o país é fundamental, desde a saúde, educação, justiça, segurança social, economia e fiscalidade, entre outras áreas. Mas o atual perfil do eleitorado conduz a outras legitimas pressões sobre os decisores políticos que nem sempre são facilmente conciliáveis com a implementação das reformas necessárias. Um desafio difícil que tem conduzindo a um excessivo imobilismo que coloca em causa a competitividade do país.