Tivemos um caso na nossa família, que não resistimos a descrever sumariamente. Um caso de Esclerose Lateral Amiotrófica, que se revelou com alguma lentidão no chefe da família, que ao fim de dois anos o atirou para uma cadeira de rodas, e um pouco mais de dois anos para o leito, em estado semivegetativo. A sua comunicação com o mundo era feita através do cérebro e da visão que se mantiveram intactos até ao fim, quase oito anos depois dos primeiros sinais da doença.
Nos primeiros dois anos de doença, a esposa foi aguentando, mas a determinada altura, também esta ficou completamente incapaz, pelo que a filha mais velha que com eles vivia, professora do Ensino Secundário, percebeu que os cuidados de que um e outro precisavam, requeriam a sua presença em permanência, apesar da ajuda de enfermeiros que suportava financeiramente.
Todos nós os familiares que conhecíamos o drama que se passava naquela casa, admirávamos a coragem e a disponibilidade daquela filha, que deixou tudo, a carreira profissional, os amigos, para se doar em permanência aos seus progenitores, sem qualquer ajuda financeira, a não ser as economias da família.
Porque foi um drama que pessoalmente acompanhámos, foi com grande satisfação que percebemos o movimento que a nível nacional se começou a gerar, ao que se sabe, através das redes sociais, no sentido de chamar à atenção do Governo e do público em geral, para que se criem condições de apoio a estes anónimos cuidadores, que são verdadeiros heróis, na sua ação humanitária e que não podem deixar de ser apoiados, se possível enquadrados numa rede, como preconiza a Associação Nacional de Cuidadores Informais, de que é presidente Sofia Figueiredo, que em recentes declarações ao Jornal Público, defende o Estatuto de Cuidador Informal, explicitando: é fundamental que seja reconhecida a carreira contributiva dos cuidadores. Há pessoas que deixam de trabalhar para cuidar e essas pessoas não fazem descontos para a Segurança Social. Essas pessoas mais tarde vão empobrecer porque nem direito a uma reforma vão ter.
Tanto quanto se sabe, o assunto já subiu à discussão na Assembleia da República, onde será fácil obter consensos políticos em matéria de tão óbvia justiça social, embora se perceba que não será fácil legislar sobre matérias de tão diversificadas situações.
Por isso, é que temos recomendado, no âmbito das Instituições de Solidariedade que conhecemos e a que estamos ligados, que estas se disponibilizem a enquadrar informalmente estas pessoas que prestam estes cuidados, para que não se sintam tão sós. Tem aqui o Voluntariado Organizado um papel importante a desempenhar, ajudando e enquadrando os cuidadores, a que não se sintam tão isolados na sua atividade diária e permanente.
Tudo o que seja ajudar a minorar o sofrimento humano, não poderá deixar de ser encorajado e estimulado. É isso que está na génese e na razão de ser do Voluntariado.
Se pretendemos contribuir, para um Mundo Melhor.