“A Iberdrola apresentou um anteprojeto para a possível ponte, ficou do lado da APA a sua apreciação e os meses estão a passar sem qualquer apreciação. O tempo está a passar e a comunidade continua sem saber qual é a resposta à reposição da ponte Veral – Monteiros”, afirmou à agência Lusa Alberto Machado.
Recorde-se que, tal como noticiado pela VTM, a população de Veral, concelho de Boticas, e de Monteiros, concelho de Vila Pouca de Aguiar, construiu uma ponte pedonal de arame há cerca de duzentos anos. Sem esta, os habitantes das duas aldeias ficam separados por cerca de 100 quilómetros.
Aquando do início da construção da barragem do Alto Tâmega, soube-se que esta ligação deixaria de existir, uma vez que iria ficar submersa. A ponte de arame estava contemplada na Declaração de Impacte Ambiental (DIA), mas apenas como um “elemento patrimonial”, o que apenas obrigava a concessionária Iberdrola a recolocar a estrutura num outro local.
Posto isto, já em 2019, a população uniu-se e exigiu a recolocação da estrutura conhecida como Ponte “Indiana Jones” de Trás-os-Montes. À época, a Iberdrola garantiu que iria cumprir a decisão que viesse a ser tomada pela APA. Contudo, a reivindicação das populações e autarcas dos dois concelhos arrasta-se desde que se soube que a ponte pedonal iria ser retirada, sem uma alternativa para o atravessamento do rio Tâmega.
No ano passado, segundo foi anunciado pelos municípios, a Iberdrola apresentou uma proposta com duas alternativas para garantir a travessia entre as duas povoações após o enchimento da futura albufeira: ou uma passagem rodoviária mais curta que a atual, sobre o coroamento da barragem, assim como a construção de acessos em ambas as margens, ou a construção de uma nova ponte, apenas pedonal.
“Não faz sentido nenhum porque a ficha da passagem sobre o paredão até é uma ficha proposta pela Iberdrola, nem sequer foi uma ficha proposta por um município, pela APA ou outra entidade que faça parte da comissão de acompanhamento. Quem fez essa proposta, que foi aceite por todos os outros, é verdade, mas quem fez essa proposta foi a Iberdrola e agora não pode vir fazer moeda de troca das próprias propostas que fez”, salientou Alberto Machado.
O presidente da câmara disse que argumentos como o elevado custo da infraestrutura e os poucos utilizadores têm sido usados contra a construção de uma nova ponte.
“Pois, tem poucos utilizadores e se não se fizerem pontes, se não se fizerem acessibilidades, se não se fizer saneamento, se se acabar com as caixas gerais de depósitos todas e com todas as coisas, qualquer dia não há utilizadores em Trás-os-Montes porque todos têm que sair daqui. Seja um ou dois têm que ter a mesma dignidade como se fossem 20 ou 30”, salientou.
O autarca disse que “não há justificação nenhuma que fundamente a falta de decisão”, que está previsto o enchimento da albufeira do Alto Tâmega no último trimestre de 2023 e que as “soluções serão muito mais onerosas se se fizer a obra em fase de enchimento da barragem”.
Alberto Machado lembrou que esta barragem, a única do SET que ainda não está concluída, “está com dois anos de atraso” e considerou que “não se pode justificar decisões com os atrasos das próprias obras”.
“É incompreensível tanta demora, como é incompreensível que se possa salientar o número de utilizadores para uma infraestrutura preexistente e que foi construída por eles, quando no EIA, diz lá claramente que todas as infraestruturas existentes serão repostas. Não podemos dizer, depois mais tarde, que há infraestruturas de primeira e de segunda”, afirmou.
A agência Lusa tentou obter um esclarecimento por parte da APA, o que não foi possível até ao momento.
O SET é um dos maiores projetos hidroelétricos realizados na Europa nos últimos 25 anos, contemplando a construção de três barragens e três centrais (Daivões, Gouvães e Alto Tâmega) e 1.500 milhões de euros de investimento.