Assistiu-se a um cruzamento impressionante de idades que nas instalações da insigne coletividade militar, músicos de várias proveniências do país, incluindo Vila Real, estiveram ali para recordarem tempos gloriosos quando ainda eram elementos no ativo.
Olhar para a imagem grandiosa refletida no tempo em que tantos dos presentes o fizeram, tornaram aquele convívio eloquente e inesquecível. Para alguns, marcados por um véu de melancolia nos olhos, assaltaram-lhe um sentimento estranho de desejo de voltarem a tocar numa sala mágica onde os sons se transformam em cada momento em arte sublime e universal… para outros a vontade misturada de uma nostalgia onde as lágrimas facilmente desencadeiam sinais de um tempo irreversível, que já não volta para trás, mas que não se quer perder…
A festa também se refletia no brilho emitido pelos olhares, nas palavras improvisadas de inspiração que animavam as asas dos pensamentos e das lembranças, palavras e olhares que mostravam a delirante caminhada da nostalgia de um passado forte de emoções, de vivências únicas passadas, polvilhadas de palpitações que ainda tocavam os presentes e me tocaram a mim também, nos quatro anos que por ali passei. Sentiu-se a saudade da ausência de músicos já falecidos, como se a lembrança da ternura fosse densa e dolorosa, ficando deles a permanência da memória.
Feliz ideia esta segunda festa convívio, porque falar com velhas amizades foi reconfortante, como se alguém relatasse em palavras e pequenos gestos os melhores sonhos das nossas vidas. Estar ali, foi um reavivar de memórias, onde ainda pairam pequenos perfumes que amaciam e inebriam, um lugar de vislumbre com olhar para o Tejo como metáfora para a conquista de uma liberdade total e inspiradora.
A música é o ar que se respira, o alimento necessário de sobrevivência para quem através dos sons se realiza como pessoa inserida na complexidade da teia humana.
Houve concerto na sala da banda, onde o conjunto dos vários elementos que estão fora e os que estão dentro, proporcionaram momentos fortes de sentidas emoções, contrastando com episódios divertidos e empolgantes. O ponto mais alto surgiu quando a emblemática Marcha dos Marinheiros se fez ouvir…marcha apelativa à fraternidade de toda a família da Marinha, que quando se ouve, sente-se a grandeza da alma do marinheiro, na sua energia mobilizadora e patriótica das grandes conquistas marítimas, ouve-se o toque da alma na sua dor ou no seu espanto crepuscular. Ao ouvi-la, o antigo músico Taborda, que suporta a bonita idade de 97 anos, não conteve as lágrimas, mas o seu sorriso mostrou o desejo irrefreável de a voltar a ouvir no próximo ano.
Aquele opíparo almoço, foi o culminar de uma grande festa de convívio e união. Ali, as palavras mais soltas e animadas desenharam uma outra faceta agregadora, o outro lado social, onde o coração fala sem tibieza e a alma mostra toda a sua dimensão de verdade. A Banda da Armada, sempre integrou dentro das suas fileiras gente simples, pessoas elevadas de nobreza e simplicidade. Não admira, pois, que a sua qualidade artística seja um fenómeno de revelação que se eleva e transfigura no conjunto das demais congéneres. Obrigado à direção deste evento que proporcionou o deleite de um bem-estar que vai certamente perdurar no tempo.