Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2024
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Artur Jorge Machado
Artur Jorge Machado
Gastrenterologista Hospital da Luz Vila Real

Cancro Colo Rectal de início precoce

A epidemiologia do cancro colo rectal (CCR) tem vindo a mudar nas últimas décadas. Apesar da incidência nos grupos de pessoas mais velhas (> 50 anos) ter vindo a estabilizar ou até a decrescer, temos constatado um aumento do número de novos casos em pessoas mais novas (<50 anos) um pouco por todo o mundo.

Estima-se que aproximadamente um em cada 10 novos diagnósticos de CCR são atualmente diagnosticados em indivíduos com menos de 50 anos (ou seja 10-12% de todos os novos casos).

A partir da década de 90 e com a implementação mais ou menos generalizada do rastreio (realização de colonoscopia) na população com mais de 50 anos, a incidência de CCR neste grupo diminuiu mais de 35%, e com ela diminuiu também a taxa de mortalidade. Contudo, a incidência entre adultos jovens (especialmente entre os 40 – 49 anos) quase que duplicou, sendo que a taxa de mortalidade permaneceu estável neste grupo.
Pouco se sabe em relação aos mecanismos e fatores que contribuem para o desenvolvimento de CCR em adultos jovens. Acredita-se que a obesidade (associada a um risco 2xs superior); a diabetes diagnosticada em indivíduos com menos de 50 anos; um estilo de vida sedentário; o tabaco; a dieta (sobretudo rica em carnes vermelhas e alimentos processados;…); fatores ambientais (como a poluição industrial) e o uso indiscriminado de antibióticos desde muito cedo (com influência na microbiota intestinal), desempenham um papel importante neste fenómeno. Contudo, é consensual a necessidade de mais estudos e investigação a este nível.

O não reconhecimento atempado das síndromes hereditárias, a falta de documentação ou de comunicação de casos de CCR na família são também apontados como causas de falha no diagnóstico precoce. Contudo, embora os fatores genéticos possam afetar o risco de CCR precoce, a maior parte destes indivíduos não apresentam nenhuma síndrome hereditária ou mutação associada a CCR. Por outro lado, os critérios clínicos tradicionais (baseados na história familiar) falham na identificação daqueles em maior risco até porque constatamos que 3 em cada 4 diagnósticos de CCR precoce ocorrem em indivíduos sem qualquer história familiar.

Os sintomas de alarme (retorragia, dor abdominal, perda de peso; anemia,…) precedem o diagnóstico de CCR precoce em 70-95% dos casos. Contudo, a presença destes sintomas normalmente traduz doença mais avançada e, consequentemente, pior prognóstico. A desvalorização dos sintomas nestas idades, pode levar a um atraso na procura de cuidados médicos e/ou um atraso na realização de exames auxiliares de diagnóstico (particularmente a colonoscopia).

Por tudo isto é urgente uma estratégia concertada, fundamentada, com vista a um diagnóstico precoce.

Enquanto isso não é estabelecido, a sensibilização da população para esta questão, aliada a uma avaliação clínica atenta e sem “preconceito” baseada não só na idade e história familiar, mas tendo em forte consideração os antecedentes pessoais (obesidade; diabetes; tabagismo; doença inflamatória intestinal,…), os fatores de risco ambiental e de estilo de vida são de extrema importância.

Uma outra opção consiste na redução da idade de rastreio (atualmente fixada nos 50 anos) para os 45 anos, recomendação preconizada pela Sociedade Americana de Oncologia desde 2018, podendo vir a ser seguida em outros países. Apesar de ser uma medida igualmente importante, representa uma sobrecarga económica significativa, depende da capacidade de resposta técnica (realização de colonoscopias) e, ainda assim, apresenta um valor limitado, uma vez que cerca de metade dos indivíduos com CCR precoce têm menos de 45 anos.

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