Tivemos o privilégio de conviver de perto com este ilustre transmontano e apaixonado vila-realense. Homem que nunca se deixou aprisionar pelas suas origens do Assento de Vale de Nogueiras, que o viu nascer há pouco mais de noventa anos. Um espírito irrequieto com as vicissitudes da sua infância familiar a imporem-lhe largos horizontes, quer em termos de formação académica, quer em vocação profissional, com o seu debilitado sistema pulmonar a impeli-lo a aprofundar conhecimentos nesta área científica.
Partiu para Angola onde como diretor do Hospital Sanatório de Luanda e na chefia do Serviço de Combate à Tuberculose, teve oportunidade de ampliar o seu currículo, sobretudo na área de pneumologia, que fez dele um dos maiores investigadores nacionais desta ciência médica, tendo com naturalidade sido, durante muitos anos um dos responsáveis diretivos do
Vila Real recorda-o também, e sobretudo, como um cidadão exemplar, que nunca negou a contribuição pessoal que lhe foi sendo pedida, em muitas outras áreas para além da Saúde.
Pessoalmente, recordamos o quanto nos ajudou na Câmara Municipal a que presidíamos, como Presidente da Assembleia Municipal, durante vários mandatos. Quem teve a honra de ser deputado municipal nessa altura, recordará o serviço público que prestou e a forma como o fez: com humildade, enorme inteligência, sempre consensual, respeitador, exigente dos normativos, mas sobretudo a afabilidade no tratamento pessoal sem discriminação político-partidária.
O Partido Social Democrata recordá-lo-á também como Presidente da Comissão Político Distrital. Num tempo que a nível nacional nem sempre foi fácil, com a morte inopinada do seu carismático líder Francisco Sá Carneiro. Período em que, apesar da turbulência a nível nacional, o distrito social democrata de Vila Real, sob a sua orientação e palavra de convergência, nunca oscilou, porque a sua clarividência e poder de antevisão, foi sempre capaz de nos guiar no rumo mais adequado.
Finalmente. Se é certo o que deixamos escrito atrás, a maior prova do acerto das suas palavras, do seu conselho, da sua visão política, terá tido reflexos na sua própria casa, na sua própria família. Neles floresceu e cresceu um filho, o Pedro, que o país já pôde apreciar (e nos ombros de quem, num dos períodos mais difíceis da governação pós 1974, repousou a responsabilidade de ser Primeiro-ministro, ajudando a tirar o país da bancarrota em que tinha mergulhando.
Também aqui terá pesado, de alguma forma, o conselho avisado do pai, o homem que agora nos deixou. Que deixa de facto, um vazio, mas também uma herança de cidadania, que pessoalmente compartilhamos e agradecemos.
Obrigado Dr. Passos Coelho.