Pretende-se um Estado minimalista para pagar impostos e um Estado paternalista para receber benefícios. Não falta quem seja abertamente contra o sistema nacional de saúde, mas exija ser tratado com dignidade e eficiência taumatúrgica, quando a ele recorre ou quando é hospitalizado e, se possível, não pagar uma simples taxa moderadora de poucos euros.
Queixam-se das pensões de reforma, mas nunca entregaram um cêntimo de contribuições para acautelarem o envelhecimento, esperando os benefícios que o Estado lhes possa oferecer com generosidade.
São os mesmos que desprezam a escola pública, mas querem um sistema privado de ensino e educação pago pelo Estado porque os seus meninos não podem misturar-se com os filhos do povo. Era o que faltava! Mas que pague o Estado, o Estado minimalista que defendem para assumir obrigações, mas que seja paternalista e protetor nas horas de maior aperto e necessidade.
Continuam a ser os mesmos que gulosamente privatizam os lucros obtidos nas suas empresas e que, quando a coisa corre mal, pretendem que sejam nacionalizados os prejuízos à custa do erário público.
Da mesma forma, arriscam o que não devem no mercado acionista mas, quando as aplicações correm mal, logo vêm dizer que foram enganados, que não sabiam, devendo ser o Estado a suportar a aventura.
São os mesmos que querem para si um Estado justo e para os outros um Estado justicialista, castigador, arvorando-se em legisladores da repressão, quando não lhes toca pela roupa ou aos seus.
Não querem os filhos no serviço militar mas querem que os dos outros defendam o país.
Em regra, para estes cidadãos o mundo começa na sua casa e termina na rua ou cidade onde residem. Para eles tudo, para os demais nada ou quase nada.
O que é verdadeiramente importante são eles próprios, se possível que o Estado aumente apenas os funcionários da sua classe e defenda os seus interesses particulares.
Vivemos neste mundo dicotómico almejando sempre sol na eira e chuva no nabal.
O tempo presente reclama de cada um de nós mais profundidade de pensamento, de modo a interpretarmos a complexidade da sociedade atual.
Passamos a vida divididos entre os que reflectem e os conformados com verdades superficiais, como se delas dependesse o abastecimento dos celeiros.
É esta a diferença entre democracia e populismo; entre estudo e superficialidade; entre subordinação e liberdade; entre o que são os deveres e o que são os direitos de cada cidadão.
Recordemos Vitor Hugo que dizia:
A água que não corre forma um pântano; a mente que não pensa forma um tolo.
Talvez vivamos num pântano rodeado de tolos que acreditam terem a chave para darem rumo ao mundo.
Afinal, conhecem os tolos o que os sábios ignoram como se o eixo da terra girasse em torno do próprio umbigo.