Quando, a 13 de março de 2013, o papa Francisco subiu à varanda de São Pedro para dirigir a Igreja, depois do fumo branco saído da velha chaminé da capela Sistina dizer ao mundo habemos papam, a praça fronteira estava apinhada de fiéis em júbilo; foram dezenas de milhares os que ali se deslocaram para assistir ao anúncio do novo pontífice.
Precederam Francisco os conservadores João Paulo II, saído da ortodoxia da Igreja polaca e o intelectual e teólogo Bento XVI, que parece não ter trazido nada de relevante à instituição a não ser o aprofundamento teológico e do ritualismo.
Desde o Vaticano II, que a Igreja não empreende uma reforma de igual fôlego, apesar de nestes quase sessenta anos se terem verificado as mais rápidas transformações da História.
Quando ouvi, através da rádio, a intervenção de Francisco fiquei impressionado com a simplicidade do homem que rejeitou substituir o humilde crucifixo de aço, trazido da Argentina e que recusou usar os múleos, sapatos vermelhos usados há séculos pelos antecessores.
Sem por em causa as velhas tradições do papado, merecedoras de respeito pelo seu simbolismo, a atitude traduziu vontade de mudança. Mudar uma instituição das mais antigas do mundo, dirigida por uma espécie de gerontocracia, não raro, dogmática não é tarefa fácil; como diz o povo, não se fazem bengalas de pau velho.
Depois de ouvir, pela primeira vez, o papa Francisco, ocorreu-me que arriscaria vir a ser dos grandes papas da Igreja ou um demagogo sul-americano.
Felizmente, é dos grandes papas da Igreja pela simplicidade, o despojamento, o diálogo ecuménico e inter-religioso, a aproximação entre os povos e a dignificação da condição humana; grande pelas preocupações sociais, o ambiente, a exploração e a paz no mundo.
Parece-me ser dos papas que mais respeitabilidade e compreensão granjeou da parte dos chefes de outras confissões religiosas.
Numa época em que emergem movimentos que põem em causa as conquistas sociais e a democracia, os direitos humanos e a liberdade, Francisco tem sido um oásis de esperança.
Na encíclica Fratelli tutti, expressão que colheu do seu guia espiritual, São Francisco de Assis, emergem as questões do diálogo e da amizade social, aproximando comunidades.
Francisco tem sabido ser um papa do seu tempo, consciente dos dramas e desafios que se colocam à humanidade.
Creio que tem seguido, em alguma medida, os ensinamentos de Leão XIII, dos papas mais sábios e prolíficos da Igreja.
Quando, a 15 de maio de 1891 publicou a Rerum novarum, que versou sobre a condição dos operários na sequência da Revolução Industrial, deu inicio à doutrina social da Igreja. Se tivermos em conta o tempo histórico em que surgiu a Rerum Novarum foi uma carta encíclica revolucionária que nem todos souberam acolher.
Em alguns países, clérigos foram presos por defender a doutrina de Leão XIII.
Os grandes papas, ao aproximarem a Igreja dos povos e dos desafios sociais mais não fazem do que aprofundarem o sentimento cristão.
Vale a pena ver o filme, Os dois papas de Anthonny Hopkins e Jonathan Price que tão bem faz a síntese dos dois papados.
Estamos num tempo em que todos esperamos respostas urgentes e claras. Todavia, tenho para mim, que Deus e a fé não se googlam.