Sexta-feira, 26 de Julho de 2024
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Ernesto Areias
Ernesto Areias
Advogado. Colunista de A Voz de Trás-os-Montes

Abrilada, tentativa de golpe palaciano

O início da guerra em Angola a 15 de março de 1961 e a violência dos confrontos, deixou o regime paralisado e indeciso.

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O início da guerra em Angola a 15 de março de 1961 e a violência dos confrontos, deixou o regime paralisado e indeciso.

Discutia-se, então, a mudança na política colonial no Conselho Superior Militar em reuniões do conhecimento de Salazar, através do gen. Botelho Moniz, então ministro da defesa, e de outras altas patentes.

Um dos ideólogos da mudança foi o então cor. Costa Gomes, que obteve, do embaixador dos USA, C. Burke Elbrick, a promessa de apoio para que a transição do regime colonial se fizesse através da autodeterminação durante um período mínimo de doze anos. Apontava-se como solução a criação de um estado federal, ideia cara ao prof. Marcelo Caetano, que viria a passar pela consulta dos povos das colónias sobre o seu futuro.

Esta proposta dos militares teve firme oposição de Salazar, que mantinha uma atitude de desconfiança em relação aos USA. Já assim tinha sido no plano Marshall e desconfiança de John Kennedy, grande defensor da democracia. Esta posição arrastou Portugal para uma guerra inútil de treze anos, porque as soluções pacíficas foram rejeitadas.

Uma das formas de atuação de Salazar era ouvir toda a gente, de modo a avaliar o alinhamento com o regime, e decidir, mais tarde, à revelia de todas as opiniões e perseguir quem entendia.

As eleições de 1958, a Índia Portuguesa, o 4 de Fevereiro, o assalto ao Santa Maria e o início da guerra, em vez de servirem de alertas, foram causa do extremar de posições do regime, que mantinha ao leme um homem fora do tempo, arcaico, com o pensamento cristalizado e abocanhado pelos interesses dos grandes grupos nas colónias.

A queda do império colonial da França, que agonizava na guerra da Argélia, a independência do Congo e outras em África, não foram o bastante para que Salazar aceitasse que remava contra a maré.

Foi esta recusa do regime que esteve na origem da Abrilada, tentativa de golpe palaciano condenado, desde o início ao fracasso.

No livro “Costa Gomes, o último marechal”, do qual consta uma extensa entrevista de Maria Manuela Cruzeiro, o entrevistado respondeu a numerosas perguntas dando a sua versão da Abrilada.

Segundo o ideólogo principal do golpe, o episódio não passou de uma tentativa falhada, desligada do povo e sem a intervenção da oposição ao regime.

Ora, nenhuma revolução ou transformação política se impõem desligadas dos destinatários, que são os cidadãos, e sem um programa de ação abrangente, quanto às grandes questões nacionais, que o conduza.

Creio que nas reuniões do Conselho Superior Militar apenas se discutiu a política colonial sem um plano abrangente das alterações que viriam a ser necessárias.

Os pretensos golpistas chegaram a preparar a ida de Salazar para a Suíça sem ideias para o desenvolvimento do país. A reunião decorreu a 13 de abril pelas 15:00 sendo demitidos os intervenientes dos seus cargos meia hora depois, por denúncia de Kaúlza de Arriaga.

Com a expressão “rápido e em força para Angola”, Salazar anulou as ações de um golpe romântico de militares hesitantes, de uma aventura que mais parecia um amuo.
Bem poderiam, os militares, projetar o olhar no futuro, enquanto Salazar continuava a rejeitar as deliberações da conferência de Berlim em 1885.

A obstinação dos tiranos paga-se com sangue dos inocentes.

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