Bom a matemática. Vítima de bulling no Liceu. Gostava de videojogos, de falar sobre eles, de armas e de demolições. Ironicamente, não conseguiu pertencer ao clube de tiro da sua escola (sim, leu bem, existem escolas com clubes de tiro nos EUA), porque, alegadamente, tinha má pontaria. Estava registado como Republicano, o partido de Trump. Mas, em 2017, fez uma doação de 15 dólares a um PAC com ligações ao atual presidente norte-americano, Joe Biden. Há data em que escrevo, é isto que se sabe sobre o homem que tentou assassinar o candidato à presidência dos EUA, Donald Trump.
É informação anémica, esclerótica e apenas amiúde anedótica. Um homem comum, reservado e injustiçado. Até merecedor de alguma simpatia. Contudo, num ato inaceitável e de puro desprezo pela democracia, disparou vários tiros contra Donald Trump enquanto este discursava.
Sou um rapaz que não acredita em determinismos e está bem afeiçoado à existência do livre arbítrio, ou à ilusão da sua existência, que apesar de tudo não abala este meu apego. Contudo, esta nova desmonstração de violência política nos Estados Unidos da América determina-me a pensar, contra todos os meus instintos, que a reeleição de Trump está escrita nas estrelas. Vejamos, Trump é candidato à presidência num país que está particularmente programado para apreciar as suas qualidades. A sua “estética”, o seu apego pela fama desmesurada, a sua verborreia desconexa, o seu comportamento sem amarras éticas e a sua caricatural encenação de coragem “faroestetiana”. Aparece num momento histórico onde existe uma grande animosidade contra as elites políticas tradicionais, pelos seus falhanços nas últimas décadas, e onde Trump pode ser o populista que nasceu para ser. Apesar de todos os processos judicias e algumas condenações, continua em liberdade e cada vez mais próximo de se manter assim. Candidata-se contra um Presidente, Joe Biden, que o derrotou em 2020, mas que, com 81 anos, está em claro declínio físico e intelectual. E agora, um rapaz insuspeito, apesar da sua má pontaria, consegue disparar e acertar na orelha de Donald Trump, ferindo-o. Um centímetro para o lado e o candidato Trump estaria morto. Contudo, saiu do púlpito pelo próprio pé, de orelha furada, ensanguentado, desafiante, de punho erguido no ar e a gritar: “Lutem, lutem, lutem!”.
As consequências deste incidente parecem óbvias. Já se sabe o que os romanos acharam do assassinato, à traição, de Júlio César. Não houve maior prego no caixão da Républica. Mas se os últimos tempos nos ensinam alguma coisa é que há sempre algo de inesperado e prestes a acontecer, que pode alterar por completo a nossa perceção sobre o momento atual. Ainda há pouco se achava que não haveria outro assunto nesta campanha eleitoral que não fosse a idade avançada de Joe Biden. Mas, a cada nova surpresa, instala-se uma certeza, a de que aconteça o que acontecer a reeleição de Trump está predestinada. Espero estar enganado.