João Ferreira

Não se chamava Tom Doniphon, mas sim Tom Matthew Crooks. Tinha 20 anos, trabalhava num lar para idosos, vivia na casa com os pais em Bethel Park, Pensilvânia.

Depois de mais um ato eleitoral, desta vez para o Parlamento Europeu, a ideia de que o grande bloco central político é impenetrável, e é o único que pode carregar consigo os grandes desígnios de progresso material e humano dos povos europeus, voltou a vacilar.

Todos os anos, já bem entrada a primavera, sou confrontado, de forma desagradável e desusada, com os limites da minha fisiologia.

É um lugar-comum a indignação contra a mentira. Apontamos o dedo acusatório aos mentirosos, convictos da corrupção moral que representam, abanamos a cabeça, juramos não compreender como é que alguém pode mentir e suspiramos resignados para mostrar aos outros a profundidade da nossa revolta. Contudo, é evidente que todos mentimos.

Nas eleições para Assembleia da República ganhou, tudo indica, a coligação PSD.CDS.PPM (AD), com vantagem muito curta para o PS.

Não se assustem, em abono da verdade ainda não estamos sobre a égide de um governo reacionário, porque a direita ainda não ganhou. Mas depois das “primárias” dos Açores (obrigado Marcelo!), uma vitória nas eleições legislativas abrirá claramente o caminho para uma aliança entre os vários partidos da direita, com deputados suficientes para apoiar um governo.

Já sabíamos do mais recente chumbo ao recurso apresentado da decisão da Agência De Avaliação E Acreditação Do Ensino Superior (A3ES) em relação à criação do curso de Medicina na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

É já com o país mergulhado em época natalícia que vos escrevo esta última crónica de 2023.

Fiquei surpreendido, tenho de admitir, quando vi André Ventura a ser entrevistado nos estúdios da CNN, pouco tempo depois de ter aparecido nos ecrãs de televisão a falar a partir dos corredores da Assembleia da República.

Vamos diretos ao assunto. Os ataques de terror, perpetrados pelo Hamas a 7 de outubro, não são uma resposta do Povo Palestiniano às muitas, graves e ilegais violações aos seus direitos e à sua vida, a que o Estado de Israel os tem submetido pela força ao longo dos anos.

Faz falta insistir e voltar a relembrar. O SNS é seguramente uma das instituições do 25 de Abril e da Democracia que os Portugueses mais estimam.

Foram previsíveis os apelos do Papa Francisco.

Apesar do título, não vou aqui escrutinar o polémico financiamento público da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), nem o caricato desmontar do monumento evocativo ao 25 de Abril de João Cutileiro no parque Eduardo VII, nem outros dislates semelhantes.

Tenho de reconhecer que não foi exatamente assim que se expressou o Presidente da Républica (PR) Portuguesa, no seu discurso do 10 de Junho em Peso da Régua.

Após recurso de César do Paço, o Tribunal da Relação de Lisboa deu ordens à Wikipédia para apagar, do seu sítio na internet, quaisquer informações sobre a associação entre César e o partido político Chega, incluindo a de um financiamento de 10 mil euros (o máximo legal).

Quem ligou a televisão ou leu as parangonas de um jornal nos últimos dias, dificilmente conseguiu evitar ouvir, ou ler, o nome de Jack Teixeira.

A pretexto da polémica acreditação do novo curso de Medicina no Porto, escrevi aqui (www.avozdetrasosmontes.pt/quem-nao-acredita-no-desenvolvimento-do-interior/) sobre as lógicas perniciosas do pensamento a que chamei de “metropolitano”, e que acredito têm contribuído para o empobrecimento do País.

Não espanta que os meandros da acreditação do novo curso de Medicina no Porto, pela Universidade Fernando Pessoa, tenham estado nas bocas mundo.