Sexta-feira, 26 de Julho de 2024
No menu items!




João Ferreira
João Ferreira
Investigador, Professor do Ensino Superior

Quem não acredita no desenvolvimento do interior?

Não espanta que os meandros da acreditação do novo curso de Medicina no Porto, pela Universidade Fernando Pessoa, tenham estado nas bocas mundo.

-PUB-

Desde o inenarrável equívoco na colocação (não autorizada) do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho na candidatura, até à confissão que a autorização duraria apenas um ano(!), o caso tem contornos bizarros.

Este tipo de decisões, tomadas à revelia do bom senso e da prudência (o reitor desta Universidade foi condenado a 13 meses de prisão por desvio de milhões de euros), presume-se que estão contaminadas pelas correntes de cumplicidades políticas e interesses pessoais e institucionais que amarram o país. Mas existem, contudo, causas mais profundas que, na minha experiência, são fatores mais determinantes na tomada destas deliberações de caráter torpe. A saber: a ignorância e a incompetência de quem as toma. Consubstanciada numa certa forma de pensar, pedante e paternalista que acha que não vale a pena investir no interior. Este tipo de raciocínio, chamemos-lhe “metropolitano”, tem uma lógica circular que perpetua o preconceito e o subdesenvolvimento. Senão vejamos: não investimos no desenvolvimento de uma certa região do país, menos “desenvolvida”, porque é mais fácil e mais “barato” investir e capacitar estruturas já existentes nas regiões que, por razões que se perdem no tempo, são mais desenvolvidas. Assim, tempo, empenho e dinheiro circulam para essas zonas do país, concentrando recursos, pessoas e interesses. Estes últimos, com sucesso, fazem ‘lobby’ para obter ainda mais projetos e mais dinheiro, impedindo que este vá para as regiões cada vez mais depauperadas. É por isso que é difícil inverter a lógica de desenvolvimento dos grandes centros urbanos do litoral, e é preciso coragem e força de vontade para inverter este círculo vicioso.

Estou ciente de que, para além das honrosas exceções das Universidades da Covilhã e do Algarve, o anterior Ministro Manuel Heitor também já prometeu o curso de Medicina na UTAD para 2023, e que o reitor da UTAD Emídio Gomes já afirmou, e bem, que está empenhado e que já tem um plano. Mas ainda estamos à espera do anúncio oficial. E o facto de a A3ES ter acreditado, em primeiro lugar, os cursos da Católica e da Fernando Pessoa, duas privadas de Lisboa e Porto que irão cobrar propinas elevadíssimas, é um indicador sintomático.

É preciso dar dinheiro, capital humano e tempo para desenvolver o interior, porque não é de um dia para o outro que se cria uma Faculdade de Medicina em Trás-os-Montes. Os desafios são muitos e complexos, sobre os quais falarei numa próxima oportunidade. Mas quando mais cedo começarmos melhor. Não há tempo a perder e estamos com os olhos abertos, porque o “barato” sai caro a todos.

OUTROS ARTIGOS

[adrotate group="19"]

[adrotate group="2"]

ARTIGOS DE OPINIÃO + LIDOS

[adrotate group="3"]

Notícias Mais lidas

[adrotate group="5"]

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Subscreva a newsletter

Para estar atualizado(a) com as notícias mais relevantes da região.