Sábado, 25 de Janeiro de 2025
No menu items!
Eduardo Varandas
Eduardo Varandas
Arquiteto. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

O conceito de colono e a sua deturpação

Há dias no programa televisivo “O Último Apaga a Luz”, que passa na RTP3, às sextas-feiras, e cujo tema em debate tinha que ver com a polémica causada pelas declarações do PR à imprensa internacional, sobre as reparações/indemnizações que Portugal devia fazer pelo seu passado colonial, uma das quatro personagens que compõem o painel do dito programa, teve o desplante e a insensatez de acusar todos os brancos, que residiam nos antigos territórios africanos portugueses, de colonos.

Tal afirmação foi suscitada pela posição assumida pelo seu colega de painel ao contrariar as declarações de MRS, dizendo que não faziam qualquer sentido, uma vez que se assim fosse, abrir-se-ia uma caixa de pandora, porque então os chamados retornados também deviam ser ressarcidos, uma vez que vieram com uma mão à frente e outra atrás, na sequência da descolonização.

Segundo o dicionário da Porto Editora, de J. Almeida Costa e A. Sampaio e Melo, a palavra colono refere-se a um individuo que faz parte de uma colónia; cultivador de uma terra por sua conta, mas pagando uma renda ao dono; povoador. Ora, a esmagadora maioria da população branca que vivia e trabalhava nos antigos territórios ultramarinos não se enquadrava nesta definição, daí ser grave e ofensiva a afirmação proferida com sentido pejorativo pela referida comentadora, revelando, com isso, leviandade e ignorância da realidade africana, com a agravante de se tratar de uma pessoa que se intitula historiadora.

Quem viveu em África e particularmente em Angola, situação que conheci muito bem, decorrente da minha comissão de serviço militar aí prestada, sabe que havia de facto brancos que se dedicavam ao cultivo das terras, alguns deles proprietários das chamadas fazendas, mas havia muitos outros que tinham as mais diversas ocupações profissionais nos diferentes setores da atividade económica, como, por exemplo, empregados de balcão, de escritório, de café, bancários, dos correios, taxistas, motoristas dos conhecidos machimbombos, etc. A minha lavadeira era uma mulher branca, que vivia num musseque com dificuldades.

Classificar todo o homem branco, que viveu em África, pela mesma bitola, isto é, catalogando-o como colono, só por ser branco, é uma afirmação gratuita e insultuosa. Há pessoas que pelo seu estatuto de figuras públicas deviam ter mais cuidado com as afirmações que produzem para não caírem no ridículo de serem desmentidas pelos factos e de ofenderem os seus compatriotas que foram para África, como muitos outros emigraram para a Europa, América e outros continentes, à procura de melhores condições de vida. Há programas televisivos onde são feitas as mais díspares afirmações, constituindo, algumas delas, um autêntico disparate.

As atoardas e aleivosias que certos comentadores, deitam da boca para fora, sem qualquer razoabilidade e bom senso, só contribuem para lançar a confusão e deturpar a História.

OUTROS ARTIGOS do mesmo autor

Memórias que nunca se esquecem

A propósito dos 49 anos do 25 de Novembro

A Primeira República e o Catolicismo

O Zé Bailão

Uma cerimónia comovente

NOTÍCIAS QUE PODEM SER DO SEU INTERESSE

ARTIGOS DE OPINIÃO + LIDOS

Notícias Mais lidas

ÚLTIMAS NOTÍCIAS