Quinta-feira, 23 de Janeiro de 2025
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O tradicionalismo nas comunidades cristãs

A Diocese do Porto foi recentemente surpreendida pela morte inesperada do Padre António Augusto Teixeira de Sousa, pároco de Lavra e Perafita, em Matosinhos.

O pároco foi encontrado morto na sua residência paroquial. A seu tempo se saberá a causa da morte. A tensão dos últimos tempos poderá ter ajudado. No pretérito maio, deu-se um diferendo entre o pároco e um grupo de paroquianos da Lavra, mais concretamente de Angeiras, por o pároco ter tomado a decisão de que as imagens dos santos não sairiam este ano, sendo logo cancelada uma tradicional festa e procissão de grande significado e importância para os pescadores da região no mês de agosto. As imagens, de modo especial a imagem de Nossa Senhora de Fátima, tinham sido recentemente restauradas e o pároco achou por bem resguardá-las por mais algum tempo, podendo ser substituídas por réplicas, aliás, prática que já se usa em muitas paróquias. No entanto, um grupo de paroquianos não aceitou as justificações e exigiu a imagem original, ou melhor, a imagem que foi oferecida pelos pescadores.

Como não estou por dentro de toda a trama do diferendo, escuso-me a tomar partido por qualquer uma. De qualquer forma, lamenta-se que estas situações aconteçam nas comunidades cristãs, que pouco abonam a favor do bom testemunho da fé cristã e do Evangelho. Talvez um pouco mais de diálogo poderia ter dado outro rumo ao confronto que se gerou. Já existem algumas formas de proteger as imagens. Mas também é bom lembrar que as imagens originais de Nossa Senhora e dos santos estão no céu. Na terra só existem réplicas. Podemos ter ligações sentimentais a certas imagens, mas também não vejo o dano para a nossa fé pelo facto de num ano uma imagem não participar numa procissão, a não ser o puro tradicionalismo. Qualquer imagem digna dá para honrar Nossa Senhora e os santos.

Infelizmente, em muitas comunidades cristãs já se geraram graves e penosos desentendimentos devido a costumes e tradições, que parece que valem mais do que tudo o resto, e é quase chocante ver comunidades cristãs dilaceradas por contumazes contendas de submissão à deusa “tradição”, que a boa vontade e a sensatez facilmente resolveriam.

O mais importante da vida cristã não são as tradições e os costumes. É a fidelidade a Deus e à sua palavra, é o seguimento de Jesus Cristo, é o anúncio do Evangelho e a edificação do Reino de Deus, é o amor e a comunhão entre os cristãos e dos cristãos com os outros.

Tudo está ao serviço disto.

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