Sexta-feira, 26 de Julho de 2024
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João Ferreira
João Ferreira
Investigador, Professor do Ensino Superior

Jornada Mundial da Juventude ou a solidão do Papa Francisco

Apesar do título, não vou aqui escrutinar o polémico financiamento público da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), nem o caricato desmontar do monumento evocativo ao 25 de Abril de João Cutileiro no parque Eduardo VII, nem outros dislates semelhantes.

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Abordar essas questões é muito importante, mas já há quem o esteja a fazer. A JMJ de Lisboa contém em si outros significados relevantes.

A escolha do local de acolhimento para as JMJ é feita pelo Papa e, desta vez, Francisco e a Igreja Católica escolheram Lisboa, a capital do país onde a erosão do catolicismo europeu tem sido menos evidente, e onde a fé mais tem resistido às incursões do secularismo. Segundo e Pew Research, em 2018, 83% dos portugueses declaravam-se cristãos, acompanhados por 80% de italianos, irlandeses e austríacos, números muito acima dos 66% de espanhóis ou 64% de franceses. Estancar a diminuição de fiéis na Igreja Católica portuguesa e europeia seria um objetivo importante para esta instituição, mas a Universidade Católica Portuguesa anunciou há apenas uma semana que só 49% dos jovens entre os 14 e os 30 anos se declaram católicos, comparados com os 44% de não crentes (os restantes declararam outras práticas religiosas). Se os números são assim no bastião português, como serão no resto da Europa?

Acredito que o recente documentário “Amén: Francisco Responde”, onde o Papa fala em primeira pessoa com um grupo de jovens de todo o mundo, representa a forma como uma parte da Igreja, aquela que é fiel a Francisco, concebe a sua ação e tenta recuperar o seu papel na sociedade. Nele, um Papa doente e envelhecido ouve atentamente os jovens, de sangue na guelra e, amiúde, lágrima no olho. O Papa ouve sobre a vontade das jovens serem ordenadas, sobre a interrupção voluntária da gravidez e até sobre a criação de conteúdos pornográficos online. Francisco não aprova, mas ouve, querendo mostrar que a “sua” Igreja acolhe todos. Em seguida, ataca os abusos sofridos pelos migrantes na Europa, na sua opinião uma nova forma de escravatura remanescente da cultura colonialista europeia, e acusa de infiltrados aqueles que, sendo da Igreja Católica, atacam e discriminam membros da comunidade LGBT. Não há dúvida de que este é o Papa mais liberal e progressista da história, e que acredita que é nos setores de centro-esquerda da sociedade que o catolicismo tem sofrido maior rejeição. Por exemplo, em relação ao casamento homossexual e à interrupção da gravidez, os cristãos não praticantes têm posições muito mais parecidas com os não afiliados do que com os cristãos praticantes. São esses não praticantes que Francisco quer recolocar na Igreja, recriando o Catolicismo Progressista, que, nos dias de hoje, parece moribundo. Contudo, a solução de Francisco é, paradoxalmente, um dos maiores problemas para o Vaticano. Pois quem é que, dos que permaneceram fiéis à Igreja Católica, quando todos os outros a abandonaram, concorda com estas posições de Francisco? O Papa pode estar só, no seio de sua própria Igreja.

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