Terça-feira, 14 de Janeiro de 2025
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Diogo Pinto
Diogo Pinto
Geógrafo

Garantindo uma boa experiência turística: A urgência de melhorias no serviço ferroviário na Linha do Douro

São conhecidas as fortes limitações de material circulante que a CP - Comboios de Portugal possui, após décadas de desinvestimento de sucessivos governos. No entanto, exige-se um esforço do Estado para garantir os recursos necessários a fim de assegurar uma qualidade mínima no serviço ferroviário.

Em pleno agosto, observa-se que existem comboios em hora de ponta com apenas uma unidade (UTD) na linha do Douro. Em São Bento e Campanhã, muitos dos comboios atingem a sua capacidade máxima, com inúmeras pessoas em pé. Muitos dos passageiros são turistas e, nesta viagem, que frequentemente parte com acentuados atrasos, veem a sua experiência turística defraudada. Isto impacta também o setor turístico na Região do Douro e, como tal, deve preocupar-nos a todos.

Um serviço mal prestado pode comprometer o esforço de vários stakeholders na promoção da Região do Douro e de Portugal como destinos de excelência. Como tal, existem algumas medidas que podem melhorar significativamente a qualidade do serviço. Em primeiro lugar, a informação: é imperativo que a informação sobre estações, atrasos, alterações e destinos esteja visível no comboio e também em inglês. Recorde-se que, sobretudo à noite, os passageiros ficam à sua sorte para adivinhar a próxima estação. Informação visual e sonora é, portanto, essencial, mesmo em comboios como o Miradouro.

Nas estações com maior fluxo de passageiros, as bilheteiras devem ter horário alargado e a possibilidade de compra de bilhetes para comboios regionais e inter-regionais de forma automática. Além disso, a venda de bilhetes a bordo deve permitir a opção de pagamento automático (Multibanco, MB Way, etc.). Deve haver um esforço para aumentar o material circulante e, consequentemente, os lugares disponíveis. Em pleno agosto e nos próximos meses, o fluxo para o Douro é bastante acentuado, mas também é importante a manutenção do material circulante. É muito comum que até os comboios com ar condicionado estejam com essa mais-valia avariada.

E, embora a linha do Douro seja a mais rentável do serviço regional em Portugal, é também a que recebe menos investimentos. Mais de um milhão de pessoas utilizam anualmente esta linha. O comboio Miradouro é um bom produto turístico, mas não é adequado para um serviço regular em pleno século XXI, que acomoda os intensos movimentos pendulares para a Área Metropolitana do Porto. Assim, é necessário apostar na renovação de carruagens (Sorefame e Schindler) para a instalação de ar condicionado, painéis de informação digital e sonora, bem como internet Wi-Fi. Com estas medidas, a viagem será muito mais confortável. Por exemplo, num contexto de mudanças climáticas e com temperaturas cada vez mais altas, abrir a janela não pode ser a solução. Ao mesmo tempo, é imperativo acelerar os processos de aquisição de material circulante novo para o serviço inter-regional.

Um outro ponto crítico é o facto de o material circulante estar constantemente grafitado, impedindo os utilizadores de apreciar a paisagem duriense. Apesar do esforço da CP em vigilância e segurança, o problema persiste. É também urgente melhorar as ligações com outros comboios e destinos, baixar os preços dos bilhetes dos comboios regionais e inter-regionais e, sobretudo, adotar um preçário semelhante ao da aviação, que atenda à procura e permita uma verdadeira competição com o transporte rodoviário. Por fim, em época alta, deve-se limitar o acesso dos passes urbanos aos comboios inter-regionais. A oferta dos suburbanos do Porto é muito maior e, como tal, não se justifica que utilizem um serviço que, antes de tudo, é um instrumento de coesão territorial e consideravelmente mais caro.

A sustentabilidade e rentabilidade do turismo na Região do Douro e da própria linha do Douro dependem de processos de investimento constantes e de iniciativas de melhoria contínua. Obviamente, para além dos operadores, também se pede à gestora da infraestrutura (Infraestruturas de Portugal) a eletrificação e modernização da linha do Douro até Barca d’Alba, assim como uma série de melhorias nas estações e apeadeiros.

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