Quinta-feira, 20 de Março de 2025
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Diogo Pinto
Diogo Pinto
Geógrafo

Pensar na sustentabilidade e inovação dos territórios in loco

O II Seminário "O Turismo na procura pela Sustentabilidade e Inovação em Espaços Rurais" decorreu no passado dia 24 de janeiro em Montalegre.

Este é já um evento que se reafirma, mobilizando mais de oitenta participantes e duplicando a audiência comparativamente com a primeira edição. Este sucesso demonstra, uma vez mais, a importância de se unirem esforços entre os mais diversos atores, desde as universidades, os decisores políticos, as empresas, as associações locais e, obviamente, as populações. Com este espírito de colaboração, estamos mais preparados para encarar os inúmeros desafios que se colocam aos territórios rurais.

De facto, os territórios do “interior”, de baixa densidade ou territórios rurais, mediante a nomenclatura que lhes queiram outorgar, não estão condenados a serem espaços periféricos, marginalizados e subdesenvolvidos. Pelo contrário, num contexto de alterações climáticas, onde a sustentabilidade é um importante objetivo global, os territórios de baixa densidade possuem uma série de novas oportunidades. A pandemia da COVID-19 demonstrou-nos claramente que viver nas grandes urbes é, em muitos aspetos, insustentável. Destaco o trânsito intenso, o ruído constante, a poluição atmosférica e os problemas habitacionais como alguns dos desafios que afetam de forma muito negativa a qualidade de vida nesses espaços. Mas, para além disso, soma- se o stress do dia a dia, muito associado ao tempo despendido nas deslocações casa- trabalho e também à celeridade do modo de vida urbano. Todos estes problemas demonstram a necessidade imperativa de refletirmos de forma clara e séria sobre os modelos de ocupação do território, mas também sobre a organização da sociedade como um todo. No mundo moderno, vivemos nos territórios, mas deixamos de viver os territórios!

Nesta conjuntura, os espaços rurais são a alternativa equilibrada e sustentável. Há, no presente, uma oportunidade para promovermos a transição para novas formas de organização social mais resilientes e amigas do planeta. O trabalho remoto que se consolidou, em alguns setores, durante a pandemia é uma oportunidade fundamental no futuro. Com acesso às tecnologias digitais e às infraestruturas adequadas, é possível criar as condições necessárias para que empresas e profissionais altamente qualificados se fixem nos espaços rurais. Ao mesmo tempo que incrementam novas dinâmicas económicas e sociais nestes territórios. Desta forma, muitos concelhos do interior podem ser verdadeiros espaços de inovação, oferecendo a qualidade de vida, a proximidade à natureza e sobretudo um ritmo de vida mais pausado e saudável. Fornecendo, também, um contributo claro para os desafios globais de sustentabilidade, nomeadamente com a diminuição da pressão demográfica nas cidades e, evidentemente, com a mitigação de todos os problemas que daí advêm. No entanto, para que tal se suceda, é determinante investir em políticas públicas que promovam a conectividade digital, a acessibilidade aos serviços e novas oportunidades de emprego.

Durante o seminário, tivemos a oportunidade de refletir sobre alguns dos temas cruciais para o futuro de territórios como Montalegre. Desde o papel estratégico do associativismo para as áreas rurais, passando pelo empreendedorismo social até à importância da inovação como motor de transformação e desenvolvimento dos territórios. Estes debates, realizados em estreita colaboração da academia com os agentes locais, demonstraram que o turismo é uma forte ferramenta para revitalizar os territórios de baixa densidade, sobretudo quando assente em estratégias concertadas que respeitam o equilíbrio entre o ambiente, a cultura, a tradição e a economia. Um bom exemplo disso é, precisamente, o Município de Montalegre, onde as tradições e a etnografia são a base de dois grandes eventos: a Feira do Fumeiro e as Sextas-Feiras 13, com todo o impacto económico e social que daí advém.

É importante recordar que, em Portugal, não temos turistas a mais; temos sim o fluxo turístico demasiado concentrado em cidades como o Porto e Lisboa, pelo que a estratégia deve ser a diluição desse fluxo para outros espaços do país. A qualidade dos oradores presentes no II Seminário “O Turismo na procura pela Sustentabilidade e Inovação em Espaços Rurais” permitiu elevar o debate, e espero que o conhecimento partilhado e as redes de networking estabelecidas sejam o início de novas parcerias e projetos para que se possa continuar a trabalhar para desenvolver territórios mais resilientes, coesos e sustentáveis. Juntos!

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