PERFIL
Fundação: 06/10/1860
Elementos:46
Reza a lenda que foi criada após uma pisada de uvas, quando alguns habitantes pegaram em instrumentos para se divertir. “Muito vinho, muito trabalho e música à mistura, foi assim que nasceu a banda”, conta o presidente da direção, António Lima.
Atualmente, é constituída por 46 membros, dos nove aos 67 anos, a maioria jovens. Mas se antes apenas entravam habitantes da aldeia, agora são acolhidos músicos de localidades vizinhas, dos concelhos de Valpaços e Vinhais, e até de Verín.
“Se fizer alguma coisa de mal o castigo é não vir à banda, porque é o que mais gosto”
MARISA CARVALHO
Uma das entradas mais recentes foi a de Adriana Dias, de 12 anos. É de Chaves, conheceu a filarmónica nas férias desportivas e quis fazer parte, porque tinha vontade de aprender a tocar clarinete. “Gosto muito do som, ainda experimentei outros, mas fiquei pelo clarinete”, conta. Em processo de aprendizagem, que diz ser “um bocadinho difícil”, gosta “das saídas, das brincadeiras e de tocar”, conta.
Margarida Ferrador, também com 12 anos, desde os sete que seguiu as pisadas do irmão, que já tocava. Aprendeu flauta transversal e com o tempo descobriu “a admiração pela música”. “Quando toco parece que os problemas desaparecem”, afirma. A jovem acha que é um privilégio a aldeia ter uma banda, onde “as crianças poderem encontrar uma coisa que gostem”, além de ser “uma forma de se distraírem”.
Yeve Pinto é o elemento mais novo, tem nove anos. Depois de ir a alguns ensaios, “fui insistindo e entrei há sete meses”, para tocar clarinete. “Conviver com a banda, passear e tocar pelas aldeias” é o que mais gosta. Marisa Carvalho é uma das “professoras” de clarinete, instrumento que aprendeu há 10 anos. A banda “já vem de família”, sente-se “acolhida”, mas só continuou depois de “apanhar o gosto” pela música. Com quase 18 anos, antecipa que vai ter saudades dos ensaios semanais e atuações, quando for para a faculdade. Sem banda acredita que a vida na aldeia seria “mais monótona, porque não temos muito que fazer, esta é uma boa forma de ocupar o tempo”.
O avô, António Carvalho, recorda que no seu ano de entrada, 1977, a banda começou a aceitar mulheres. “Foi a primeira do concelho a ter raparigas”, lembra.
Morava em frente à sede e era impossível não ficar com vontade de atravessar a rua. “Estava ali deitado, ouvia a música e começava a ferver ‘o bicho’, porque o meu avô já tinha passado por aqui, era uma família de músicos”, conta, revelando que hoje há três gerações da sua família na Banda de Vila Verde da Raia. Esteve afastado por alguns períodos, mas regressou para tocar saxofone alto, porque “está-me no sangue”.
“Os verdadeiros heróis, neste mundo de dificuldades, são os músicos. Sem eles nada seria possível”
ANTÓNIO LIMA
O membro mais antigo no ativo é Fernando Santos, que já completou 50 anos na banda. Com a emigração e da guerra colonial a levar da aldeia muita juventude, foi colmatar as saídas com 16 anos. Como quase todas as famílias, tinha parentes a tocar. “Meteram-me o bicho no ouvido. O sangue corre-nos pelas veias e a música também”. Por diversas vezes fez parte da direção da banda e lembra-se de “em algumas alturas a ir buscar lá ao fundo”.
Além do apoio municipal e de um donativo da junta de freguesia, o orçamento vai-se compondo com patrocínios, contribuição dos sócios e as atuações, que aumentam no verão. “Atrevo-me a dizer que somos o principal estandarte de Vila Verde da Raia. Levamos o nome da terra por onde passamos”, afirma o presidente da associação, que entende que “as forças ativas da freguesia têm que olhar para esta associação como património de importância elevada”.
Segundo António Lima, “os valores hoje praticados não evoluíram ao ritmo das despesas”, com festas que pagam o mesmo desde há 10 anos. Acredita, por isso, que, “a continuar assim, muitas associações vão encerrar portas”.
Ter novas instalações é uma das ambições. “Será, provavelmente, sonhar alto, mas esta associação já merecia”, refere , apontando como hipótese a antiga escola primária.