Sexta-feira, 6 de Dezembro de 2024
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Mais de 70% dos titulares dos principais cargos políticos licenciou-se em Lisboa

Muito se fala do centralismo em Portugal. Mas neste artigo vamos mostrar esta evidência através de um indicador diferente.

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Analisemos a origem académica das nossas elites políticas. Desde o 25 de Abril de 1974, dos 40 titulares dos três principais cargos políticos em Portugal, 29 (72,5%) licenciaram-se no distrito de Lisboa.

Em 17 Primeiros-Ministros, 16 eram licenciados e, destes, 14 cursaram em Lisboa (82% dos Primeiros-Ministros licenciaram-se em Lisboa). Montenegro, que se licenciou no Porto, é o primeiro Primeiro-Ministro a estudar fora de Lisboa desde Carlos Mota Pinto (1979). Em sete Presidentes da República, seis estudaram em Lisboa (86%). Apenas Costa Gomes, que ocupou o cargo de 1974 a 1976, não se licenciou em Lisboa. Estudou no Porto.

No caso dos presidentes da Assembleia da República existe maior diversidade. Dos 16 titulares do cargo desde 1974, nove licenciaram-se em Lisboa (56%). Os restantes estudaram em Coimbra, no Porto e até no estrangeiro (caso de Tito de Morais, que se licenciou na Bélgica).

“Vivemos num país inclinado sobre Lisboa, regionalmente profundamente desigual e, em última instância, inquinado”, escreve José Paulo Soares, autor da recolha dos dados apresentados no quadro, num artigo no ECO.

Acrescenta que “estar fora de Lisboa é estar fora do centro do poder, é ignorar um conjunto de personalidades relevantes para a ascensão e é não frequentar os mesmos sítios que a bolha da capital”. Refere também que “temos há décadas líderes que nunca conheceram o país fora de uma cidade, ou mesmo fora de Lisboa e isso tem consequências. Quando a vida daqueles que nos governam é consideravelmente a mesma, o tipo de governo será sempre a pensar nessas pessoas, mas o país é mais do que isso. São escolas públicas enfraquecidas e esquecidas há muitos anos. São hospitais públicos decrépitos ou sem condições para acolher aqueles que deles precisam. São redes de transportes públicos ineficazes a cumprir o seu propósito, tantas vezes com atrasos ou avarias, etc.”. Uma reflexão interessante do jovem colunista José Paulo Soares num país excessivamente centralista.

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