Sexta-feira, 6 de Dezembro de 2024
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Natal em Chaves: Tradições que se mantêm e outras que deixam saudades

É na mesa onde se reúne a família. Muitas tradições são sinónimo de Natal, mas as relacionadas com a comida ganham lugar de destaque. Os aromas e os sabores remetem para outros tempos e a maioria das tradições gastronómicas são repetidas ano após ano.

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Em Chaves, manda a tradição que as entradas comecem por bolos de bacalhau. Já que o fiel amigo vai para a mesa de Natal, as pessoas aproveitam para fazer uma entrada económica para uma refeição mais aconchegante.

Claro que no prato principal não faltam as couves, as batatas e o bacalhau, mas há também outro acompanhamento muito procurado e que muitos consideram indispensável na consoada, a raba. Trata-se de um tubérculo semelhante ao nabo, “mas com outro paladar”, garantem-nos. Também designada de rutabaga ou nabo-da-suécia, resulta da fusão entre o nabo e a couve e há quem não passe o Natal sem a cozinhar.

“As rabas são muito procuradas, é uma tradição que as pessoas ainda gostam de manter”, conta Teresa Gomes, que tem uma pequena mercearia, considerando, no entanto, que “quanto mais os anos passam menos tradições há”. As rabas, tal como as couves, são compradas a produtores locais e encontram-se em mercearias por toda a cidade.

Já para sobremesa, bolo rei, nozes, rabanadas, aletria e sonhos, são outros dos produtos que não podem faltar à mesa para comemorar as festas.

UNIÃO E MISSA DO GALO

A reunião da família, e a troca de prendas, ainda são os aspetos mais emblemáticos do Natal, mas Ana Pascoal recorda tempos em que o espírito de união das festas era mais vivido em comunidade.

“As famílias reuniam-se todas, hoje já é mais difícil. E antigamente havia mais união, os vizinhos juntavam-se uns com os outros, agora cada um faz a sua vida, é diferente”, conta.

Dos tempos de juventude, recorda que depois do jantar da consoada “ia-se visitar os amigos, os vizinhos. As pessoas iam visitar e desejar boas festas a toda a gente, hoje cada um fica na sua casa”. Antes da ceia, também era costume “as pessoas encontrarem-se em cafés para beber um copo de vinho fino e comer umas nozes”. Tem também recordações da Missa do Galo. “Ainda me lembro de ir só para fazer brincadeiras”, conta. “Os mais novos não estavam com muita atenção”, confessa. “Levávamos uma agulha e linha e cosíamos as saias e os xailes das mulheres umas às outras. Ficávamos nos últimos bancos, uns numa ponta e outros noutra e íamos devagarinho deslizando nos bancos e, quando se queriam pôr a pé, estavam presas umas às outras”, conta, lamentando que “tudo desapareceu” e que atualmente poucas pessoas vão à Missa do Galo, que acontece à meia-noite do dia 24.

Já no dia de Natal, além de nova reunião à mesa, desta feita à volta do peru ou do cabrito, o tempo era passado em família com jogos, como o “rapa”, que se jogava com uma espécie de pião e com pinhões, como prémio. O entretenimento, que juntava toda a família, consiste em fazer girar uma piorra de quatro faces, que em cada uma tem as inicias r, t, d e p, das palavras rapa, tira, deixa e põe. Conforme a face que ficava voltada para cima, as letras indicavam ao jogador o que tinha de fazer aos pinhões que eram colocados no centro da mesa. Já nas casas mais abastadas era jogado com amêndoas ou confeites.

Ana Pascoal considera que, no geral, o Natal “era mais pobre, mas mais feliz”.

Apesar de alguma saudade dos hábitos de outros tempos, que se foram perdendo, acredita que “o Natal tem de ser todos os dias, fazendo bem aos outros”. Por isso, defende que o mais importante nesta quadra é a paz, o carinho, a união e o amor, que devem ressoar para o resto do ano.

Em Chaves, o Natal ainda é vivido de forma tradicional onde se valoriza o encontro entre familiares e onde não falta a troca de prendas.

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