A Revolução dos Cravos, como ficou conhecida em todo o mundo, foi um acontecimento marcante para a história de Portugal. O Movimento das Forças Armadas (MFA) insurgiu-se contra o que se estava a passar no país e, sobretudo, na Guerra Colonial, onde se perdiam inúmeras vidas.
Com o golpe de Estado, chegou ao fim uma ditadura de décadas e o país abraçou a democracia.
A liberdade chegou para as pessoas, mas também para a imprensa, tantas vezes sujeita à censura do conhecido “lápis azul”. Antes do 25 de Abril de 1974 só era publicado o que o regime autorizava, mas a partir daquele dia tudo mudou.
A par da cobertura televisiva e das rádios, os acontecimentos foram relatados pelos jornais e revistas, que passaram a poder falar e escrever de forma livre, sem medo de serem presos por isso.
No próprio dia, o Diário de Lisboa, por exemplo, publicou, na primeira página, o comunicado do MFA que tinha sido emitido na Rádio Clube Português. Nos dias seguintes, os títulos davam conta da libertação dos presos políticos ou da detenção de elementos da PIDE.
Mais a Norte, o Jornal de Notícias fazia manchete com a frase “Movimento das Forças Armadas desencadeado em todo o país”, o Comércio do Porto destaca o “Êxito do Golpe Militar” e o Primeiro de Janeiro anunciou que o MFA “derrubou o governo de Marcelo Caetano”.
No caso do jornal A Voz de Trás-os-Montes, a revolução foi apenas noticiada na edição que foi para as bancas no dia 4 de maio de 1974. Na primeira página, o diretor de então, o padre Henrique Maria dos Santos, assinava um texto com o título “Pela Liberdade, Pela Fraternidade Nacional, Pelo Futuro de Portugal”.
“Já se encontrava o nosso jornal impresso, a semana passada, quando as Forças Armadas do país, em pronunciamento quase unânime, desencadearam, na madrugada do dia 25, um movimento, com a intenção expressa de sanear instituições, eliminar as ilegalidades e abusos do Poder, definir uma política ultramarina que conduza à paz entre os portugueses de todas as raças e credos”, lê-se, dando conta de que “a população veio para a rua e aderiu, com entusiasmo, ao anunciamento. Finalmente, após algumas horas de verdadeira emoção, o Governo rendia-se incondicionalmente ao General António Spínola, que preside à Junta de Salvação Nacional”.
No mesmo texto, o diretor fez questão de salientar que a VTM, “um semanário independente, alheio às conveniências deste ou daquele, impermeável a pressões e atendendo, única e exclusivamente, aos interesses do povo e da Nação, não pode deixar de estar, nesta hora histórica de resoluções, na vida do país, com a Junta de Salvação Nacional, com os objetivos que visa e pelos quais já há muito nos vínhamos a bater”.
A revolução “impele-nos, agora, ainda mais a tudo fazermos pelo êxito pela melhoria das condições de vida de todos os portugueses”, afirmou o diretor, garantindo que “o nosso propósito é, nesta nova época, continuar a lutar pela liberdade, pela fraternidade nacional e pelo futuro de Portugal”.
Nesta mesma edição, foi notícia o 1º de Maio de 1974, que contou com uma adesão “gigante”, numa manifestação “pacífica e ordeira do operariado distrital em plena Avenida Carvalho Araújo”.
Nas semanas seguintes, a revolução continuou a ser notícia. Destaque para a edição da VTM do dia 18 de maio, onde foi publicada a constituição do governo provisório, que havia tomado posse no dia 15. Já na primeira página, o destaque foi aquilo que Spínola disse depois de assumir funções, com o discurso completo a ser disponibilizado na mesma edição.