Quem conhece Donzília Martins sabe que é uma bátega de bondade e de ternura, espécie de rosmaninho silvestre em que as abelhas pousam e colhem o néctar que, caldeado em levedura pastosa, prodigaliza o sumo que suaviza as gargantas de cada povoado.
Em 276 páginas condensa a autora transmontana cerca de setenta pequenas estórias que o Sonho de Maria incendeia de pureza linguística e esparge, entre crianças e adultos, em horas de euforia convivencial.
Esta docente de Murça, que acumulou virtudes crepitantes na lecionação porfiada da sua carreira transbordante de juventude e humanismo, guardou para o seu entardecer etário, os sortilégios da escrita poética que se desdobra em laivos de ternura, pelos outros que são todos aqueles que partilham os espaços comuns da sociedade em que vogamos.
Ao conjunto destas suaves papoilas campestres, chamou Dorim, nome de nomes que a escritora traz na alma, como medalha dourada que se usa a vida inteira, bem junto ao peito, em sinal de partilha sem limites, por quem amou sem medida, desde criança, como foi sua Avó a quem dedica como «eterna saudade».
Toda a obra – constituída por treze livros em prosa e em verso – é uma produção literária inesgotável de alteridade, de partilha e de comunhão. Mas este seu último grito de humanidade e de ternura é, como confessa, uma biografia romanceada em homenagem à sua avó paterna. Com este livro realiza o sonho, bem guardado que partilha com os seus leitores e amigos. Eu sou um deles e com gratidão e aplauso, deixo este registo, numa fase em que quero rebuscar palavras encomiásticas, mas já se negam a acompanhar-me. Por isso me fico por aqui, com a minha gratidão.