Nasci 6 anos antes de A Voz de Trás-os-Montes. Pedi-lhe namoro aos 14 anos. Noivámos 75 invernos. E ainda namoramos apaixonadamente, de 15 em 15 dias.
Esta metáfora corresponde à minha paixão real. Minha mulher tem esta idade. E, no dia em que celebramos 55 anos de casamento, escrevo esta crónica de amor pela minha maior paixão sócio-cultural, em que me envolvi e que é o jornalismo que forma e informa.
A Voz de Trás-os-Montes e eu próprio fizemos um pacto, em janeiro de 1953. Até 1962 convivemos debaixo do mesmo teto: o seminário de Vila Real. Na tipografia do mesmo edifício, conheci o Padre Henrique Maria dos Santos, seu diretor e abade da Sé. Manifestei-lhe a vontade de colaborar com notícias da minha Terra. Aceitou prontamente. E, no dia 24/01/1953, veio a público a minha 1ª notícia, em 18 linhas, com o título: «Codeçoso», sobre um batizado. Não mais parei.
Em 30/06/1962 deixei o seminário. Três dias depois já eu trabalhava na Barragem de Pisões. Nos dois anos de fiscal da HICA, fui uma espécie de repórter de A Voz de Trás-os-Montes. Nessa altura, a albufeira de Pisões empregava, com famílias, cerca de três mil trabalhadores.
O Diário de Notícias, o Notícias de Chaves e a Voz de Chaves tinham-me como correspondente. Em 1964 fui convocado para o serviço militar. Mesmo do norte de Angola, sempre trazia o jornalismo às costas.
De regresso a casa fixei-me em Chaves e, em 1975, transferi-me para Guimarães.
Retomei nestas duas cidades, quer a vida académica e o ensino superior, quer o profissionalismo público. Sempre a paleta do jornalismo a meu lado, já não somente, em A Voz de Trás-os-Montes, mas também em jornais e revistas de todo o país e de Angola.
Em Guimarães representei o JN até ser nomeado diretor da delegação do norte da Comunicação Social. Desde 1986, até hoje, no associativismo, na gerência e criação de órgãos nacionais, como a Voz de Guimarães, do Poetas & Trovadores, da Revista da Lusofonia, fiz de tudo, defendendo causas, enfrentando adversidades jurídicas, reivindicando direitos cívicos, pugnando pela formação e informação da sociedade, sempre de acordo com o código deontológico.
Esta atividade contínua, esta dedicação quase exclusiva e este propósito democrático, decorreram sempre, em obediência, em conformidade, em respeito e em dever moral, do sortilégio que assimilei nas virtualidades intrínsecas da formação e da aprendizagem no Jornal que hoje completa 75 anos de vida.
Parabéns a quantos, como eu, se enamoraram desta missão quase sobrenatural.