Não há como um bom discurso, num momento próprio e num local adequado, para fazer pensar muitos dos putativos, ou não, destinatários do mesmo. O poder da palavra, dir-se-á!… Certamente. O orador, e a sua capacidade oratória. Importante, sem dúvida. Mas o conteúdo do discurso, no caso, foi fundamental. Muito oportuno e com um elevado grau de pedagogia. Foi assim o discurso do Presidente da República nas comemorações deste Abril que agora passou – o 47º.
Há poucos meses, os antigos combatentes da Guerra Colonial – Províncias Ultramarinas, dizia-se então -, viram aprovado o seuestatuto. Deixaram de ter motivo para invetivas nas redes sociais alguns más-línguas que por lá andavam. Por não sei o quê, talvez só mesmo por sofrer do mal de ideologia retrógrada, fascista, uns poucos que “mandaram cidadãos portugueses para a sua terra”, só porque a tez da pele é diferente da sua, precisavam de ouvir de alguém que exerce as mais elevadas funções, as de Chefe de Estado, que “viveu como (Deputado) constituinte o arranque do novo tempo democrático” que “há no olhar de muitos de nós, desde logo nele próprio, hoje, uma densidade personalista que recusa o racismo e as demais xenofobias”. De igual modo, aqueles portugueses com mais de 50/55 anos que, ao revisitarem a infância ou a juventude, encontrarão “uma mistura de recordações, de desenraizamentos ou novos enraizamentos, de migrações e muitas (…) mais imigrações, de transformações pessoais, familiares, comunitárias, (…) de traumas os mais diversos e, em momentos diferentes, por aquilo que sonharam e se fez, por aquilo que sonharam e se desfez, pelo que sofreram e ficou, pelo que esperaram aguentaram e sentem nunca ter tido reconhecimento bastante.” Num tempo em que há quem continue a não querer compreender os milhares, muito próximo do milhão, de portugueses que tiveram que deixar muito, alguns, tudo, do que construíram numa vida, foi excelente poder ouvir essas palavras. Esses que ajudaram a reconstruir o país e cá, ou em novas migrações, foram capazes de refazer as suas vidas e gerar dinâmicas tão úteis ao Portugal destes outros tempos.
Estas são algumas razões para que se afirme, sem hesitação, que o discurso do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa constituiu uma ótima mensagem para o Dia que todos celebramos como libertador. Desde logo, por razões diferentes, é verdade, para os grupos referidos. Pedagógico e oportuno foram qualificativos que se leram por aí. Aliás, muito a propósito.