Apesar de alguma discussão pública em torno da (des)centralização do país, não se têm verificado alterações estruturais que invertam a tendência de cada vez maior centralização do país.
Ao comparar o PIB per capita (em paridades de poder de compra) das regiões portuguesas (NUTS II), percebe-se rapidamente a dimensão deste desequilíbrio, uma vez que, tendo em conta a dimensão do nosso país, se verificam diferenças muito significativas.
A Área Metropolitana de Lisboa apresentava, em 2019 (pré-pandemia, ou seja, sem distorções causadas pelo impacto da pandemia), um PIB per capita superior à média da União Europeia (102%) e equiparável ao francês, ao passo que as restantes regiões do país apresentavam PIB’s per capita muito inferiores e que se comparam com os países mais pobres da UE.
O PIB per capita do Algarve representava 88% da média da UE e aproxima-se do PIB per capita espanhol. As restantes regiões apresentavam um PIB per capita entre 67% e 76% da média da UE, que se equipara ao de países como a Polónia, a Eslováquia, a Hungria, a Roménia ou a Croácia.
A riqueza gerada em Portugal por habitante era, em 2019, cerca de 79% da média da União Europeia, mas caiu para 74% em 2021, em parte devido ao impacto da pandemia.
Este desequilíbrio entre Lisboa e o resto do país limita o crescimento nacional como um todo e de forma sustentável. A análise económica expressa, todavia, apenas parte da realidade, tendo vindo a acentuar-se o fosso entre o litoral e o interior, com consequências também na perda acentuada de população da generalidade dos municípios desta área, especialmente a favor das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.
Sempre que olharmos para valores médios da economia portuguesa e constatarmos que estamos na cauda da Europa, lembremos-nos que o cenário é ainda mais negro: a maioria dos portugueses vive em regiões que estão muito aquém dessa média. Enquanto se continuar a alimentar este centralismo, continuaremos a ter um país a várias velocidades: uns vivem “à francesa” (desculpem o exagero, mas o trocadilho é inevitável), outros (a maioria) ainda estão muito distantes dos padrões de desenvolvimento económico europeus.