Terça-feira, 10 de Dezembro de 2024
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Luís Pereira
Luís Pereira
Historiador e Arqueólogo. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

0,21% para Cultura ou de Cultura?

Ficamos surpreendidos com a magnífica verba atribuída para o Ministério da Cultura no Orçamento de Estado para 2021.

É a visão real socialista de um país cultural que brota cultura por todos os lados, e que se autofinancia em estrangulamentos económicos, de serviços e pessoas e que ainda vai dando graças à caridade vinda do turismo que tanto promovem ao nível cultural. Em ano de pandemia cujas receitas foram por aí a baixo, fica-se ainda com a fé ou esperança que em 2021 tudo volte ao normal e que os turistas endinheirados venham frenéticos pagar as entradas nos museus, nos centros de exposição, nos teatros e nos concertos, e desta forma forrar a barriga de miséria de quem ainda não teve apoio digno na área cultural.

0,21% para o sector cultural, que contas feitas dá uma migalha distribuídos para todos os intervenientes culturais, é realmente toda a ajuda necessária que o país precisa para fazer face à crise provocada pelo Covid-19, à quebra de receitas e ao investimento cultural.

Com esta “regalia” de 0,21% do Orçamento de Estado para a Cultura a ver uma escala de 0 a 100%, representa o real interesse político para este sector, nesta área que não é assim tão insignificante quanto isso, e que é tão necessária para a sociedade como a saúde e a educação.

Temos de contar com o grande esforço cultural dos programas Revive, das Lotarias do Património em que aparentemente tudo é permitido fazer nos sítios históricos e nos monumentos desde que sejam irreversíveis mas, quem irá tirar essas obras que desfiguram as leituras da história e da arquitectura nos monumentos se não for realmente compatível ou irreversível? 0,21% representa um maior estrangulamento da acção da tutela do património, convenientemente num tempo em que se assiste a uma maior destruição de locais classificados como património por este país fora quer seja devido à agricultura intensiva, quer seja inclusivo através de projectos financiados pela União Europeia e que são aplicados erroneamente em projectos em monumentos classificados, recordando por exemplo o recente episódio da Sé de Lisboa, mas se virmos bem até existem muitos outros exemplos por este país fora e por vezes bem mais perto da nossa área de residência.

Estamos a perder dia após dia valores da sociedade que a história os monumentos e os sítios arqueológicos nos transmitem, para uma contagem de apenas números pequeninos e com a esperança e com alguma fé de se estar a igualar os feitos da nossa história.

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