São cerca de 80 mil estudantes sem professor a uma ou mais disciplinas. Zona sul do país é a mais afetada com falta de docentes, mas o problema alastra-se a todas as regiões.
O problema deverá agravar-se ainda mais até ao final desta década, até ao ano letivo 2030/31. Tendo por base as estimativas do “Estudo de diagnóstico de necessidades docentes de 2021 a 2030”, da DGEEC e da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, entre os anos letivos 2022/23 e 2030/31 irão aposentar-se cerca de 38 mil professores.
Tendo em conta que o número médio anual de nascimentos ao longo da última década é substancialmente menor do que se verificava antes desse período em Portugal e que, consequentemente, há cada vez menos crianças em idade escolar, o número necessário de professores que é necessário recrutar até 2030/31 é inferior ao número de professores que se irão aposentar. De acordo com o mesmo estudo, são cerca de 31 mil professores.
No entanto, mantendo-se a média anual de novos professores formados que se verificou entre 2015 e 2022 (1.668), apenas serão formados mais 13 mil professores até 2030/31. É menos de metade das necessidades de recrutamento. Se considerarmos que o número anual de professores formados aumentará em 50% (de acordo com declarações recentes do Secretário de Estado do Ensino Superior, a procura por cursos de educação no ensino superior aumentou 45% nos últimos dois anos) poderão ser formados 20 mil professores, ainda assim um número muito abaixo das necessidades de recrutamento.
A ausência de professores perturba o sistema de ensino e o desenvolvimento das crianças, que estão numa fase crucial de aquisição de conhecimentos. Mitigar este dano nas aprendizagens dos estudantes, e encontrar formas de resolver este problema crescente, tem também o benefício de combater as desigualdades, já que as famílias com melhores condições financeiras conseguem colocar os seus filhos em colégios privados onde, por norma, este problema não se verifica. Assim, os mais prejudicados são as crianças de classe média, média-baixa ou baixa. No entanto, tendo em conta os números apresentados nesta análise, a tendência a longo prazo de maior escassez de professores tenderá a afetar o sistema de educação como um todo, tanto o ensino público como privado e do setor social.