Sexta-feira, 26 de Julho de 2024
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A especificidade do assistente social numa sociedade em mudança

Dia mundial do Serviço Social

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No dia 21 março comemorou-se em todo o mundo o dia do Assistente Social para lembrar a efeméride um grupo de Assistentes Sociais promoveu uma mesa redonda (virtual) subordinada ao tema: ‘Do passado ao presente, quais os desafios da profissão no futuro? Uma visão intergeracional’.

Participaram 60 assistentes sociais dos diversos setores de intervenção, e Irene Carvalho, professora associada e investigadora em Serviço Social do ISCSP – Universidade de Lisboa.

Os assistentes sociais sentem-se muitas vezes exaustos, ou em burnout, devido à intensidade do trabalho e responsabilidades no seu exercício profissional, em simultâneo com angústia e stress pela falta de reconhecimento das organizações, o que se manifesta na baixa remuneração e na indiferenciação académica nos requisitos para o recrutamento e ocupação de postos de trabalho específicos do Serviço Social.

Por estes motivos, previamente ao encontro foi posto à consideração dos Assistentes Sociais o preenchimento de um questionário, divulgado nas redes sociais, que permitia a recolha de informação significativa quanto à extensão e características da ocupação de postos de trabalho por profissionais sem formação na categoria profissional.

Beatriz Couto, empreendedora na área do Serviço Social, fez a apresentação do apuramento dos dados, a partir do qual se verifica que, no âmbito das estruturas que executam as políticas públicas consideradas no questionário – Justiça; Saúde; Educação; Autarquias e Solidariedade Social -, há cargos ou funções técnicas que pelos seus conteúdos e fins, se inscrevem no âmbito de competências dos Assistentes Sociais. Estes profissionais, dada a formação teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa que a formação académica e o exercício profissional lhes dá são os profissionais habilitados para o exercício profissional de Serviço Social. No entanto e ao invés, são outros profissionais, entre eles de: Direito; Engenharia; Engenharia Florestal; Comunicação Social; Jornalismo; Filosofia; Recursos Humanos; Investigação Social Aplicada; Segurança Social; Terapia Ocupacional; Enfermagem; Nutrição; Professores, nomeadamente de matemática, além de Psicologia e Educação Social, que se propõem desempenhar as funções dos Assistentes Sociais.

Face à situação identificada questiona-se quais os critérios de qualidade exigíveis aos desempenhos dos cargos para os quais cada profissional é contratado, já que os resultados parecem indicar-nos que as entidades contratantes que executam as políticas públicas, no que concerne à prestação de cuidados sociais e psicossociais às populações, preenchem os postos de trabalho sem que se perceba os critérios de correspondência entre o que os cidadãos necessitam e esperam, e as respostas e condições que lhes são proporcionadas pelos Serviços. Resultarão estas situações do máximo de consciência possível dos responsáveis nacionais e/ou locais pela gestão do Social? Será que, como disse a Prof. Irene Carvalho, “a sociedade tem, ainda, uma visão paternalista associada à profissão e que por isso qualquer um a pode exercer”? Resultarão as referidas situações de decisões casuísticas por influências de grupos de pressão institucionais ou profissionais? Que avaliações são feitas quanto à qualidade do desempenho profissional e à intervenção dos profissionais? Que avaliações são feitas sobre os benefícios ou prejuízos que resultam para as populações destas situações?

Como contributo para o debate, Irene Carvalho destacou o Serviço Social como profissão teórica, disciplinarmente orientada e informada com padrões teóricos, metodológicos, éticos e políticos, que se destaca também por ter uma dimensão multidisciplinar para entender a pessoa; o meio ambiente e a sociedade de maneira mais eficaz (transdisciplinaridade). Enquanto profissão das relações humanas exercida maioritariamente por mulheres, o Serviço Social é uma profissão que se posiciona como charneira e elo de ligação entre outras profissões, sempre focada na mudança social, no respeito pela Justiça e pelos Direitos Humanos. Nesta linha considera que os desafios para o futuro das(os) Assistentes Sociais passa, por um lado, por se envolverem com os objetivos do Desenvolvimento Sustentável; pela luta por um mundo justo e sustentável e pelo trabalho por um mundo ecossocial, respeitando a diversidade e defendendo os “direitos holísticos”; e; por outro, por se assumir que os e as Assistentes Sociais são especialistas das políticas sociais e devem participar na sua conceção e não só na implementação e execução ou avaliação das mesmas.

Do debate aberto a todos os presentes, surgem como linhas orientadoras de aprofundamento em próximos encontros: 1) a questão da ocupação da área jurisdicional do Serviço Social por outras formações profissionais, abordada por Nuno Gomes e por Paula Pinto; 2) os modelos de cooperação e colaboração das Instituições com o Estado que necessitam ser revistos, por várias motivos, entre eles os baixos salários e questões de linguagem; 3) a ocupação de lugares chave aos vários níveis de definição e implementação das políticas sociais; 4) a amplitude dos campos de ação profissional que, segundo Nuno Gomes exige uma maior ligação entre as Universidades e os profissionais de terreno, ao que a Sandra Castanheira acrescenta a necessidade de especializações, entre elas também de Serviço Social Clínico, e pós-graduações adequadas e valorizadas em todos campos de intervenção; 5) o incremento a dar ao exercício profissional autónomo, em regime livre, bem como à supervisão profissional, como expos e elucidou Regina Lourenço; 6) a visibilidade pública que todos estes debates têm de ter, como lembrou elucidadamente Arlete Coelho e por último, mas o mais importante, como chapéu que cobre todas as dimensões referidas, a Ordem dos Assistentes Sociais (OAS) que é um desígnio pelo qual esperamos há mais de vinte anos.




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